
Francilurdes Oliveira teve que passar pela dor do luto ao descobrir que sua filha, fruto de sua primeira gravidez, havia morrido. Na época com apenas 13 anos, o que ela não imaginava era que na verdade sua filha foi entregue, por sua mãe, para ser criada por outro casal. O primeiro contato com Camila, hoje com 25 anos, só aconteceu recentemente, há menos de um mês.
Mais conhecida como Lurdes, a funcionária da limpeza do Hospital Universitário de Jundiaí veio há aproximadamente 11 anos para São Paulo. Antes, morava em Crateús, no Ceará, sua cidade natal. Camila, sua filha, mora em Teresina, Piauí, cidade em que Lurdes morava na época do parto. Já casada e com três filhos, ela sonha em vir para cá conhecer a mãe, mas não tem condições financeiras.
Desde que tiveram o primeiro contato, há pouco tempo, mãe e filha conversam via WhatsApp. A cada dia, a ansiedade e a expectativa de se conhecerem aumentam.
“Esses dias fizemos uma chamada de vídeo e tudo o que eu mais queria era poder entrar dentro da tela, para poder ver ela pessoalmente. E estamos tão ansiosas. O coração falta pular para fora só de ouvir a voz a dela”, contou a cearense ao Tribuna de Jundiaí.
A história
Lurdes diz que nunca teve uma relação muito boa com sua mãe. Aos 7 anos, ela foi vendida para outra mulher, que a trouxe para São Paulo. Na época, apanhava constantemente, até que os vizinhos avisaram a polícia.
Ela passou quatro anos em um abrigo infantil, até que aos 10 anos foi enviada de volta para sua cidade. Sua mãe, no entanto, a enviou para morar com sua tia, em Teresina, no Piauí.
“Aí, com 13 anos, conheci um menino, que tinha a mesma idade que eu. Na época nós não tínhamos informação e acabou que eu engravidei. No início, sem saber do que se tratava, até pensamos que poderia ser alguma doença para minha barriga ter crescido. Fui ao médico e descobri que era gravidez”, relembrou.
Ela diz que havia conversado com sua tia e que iriam dar um jeito de sustentar a criança. Para sua mãe, no entanto, era uma vergonha toda a situação. “Ela disse que não queria ter uma filha como eu. Disse palavras horrorosas”.
No dia do parto a mãe de Lurdes apareceu por lá. O bebê foi levado do quarto e, para ela, a história contada foi a de que sua filha havia morrido.
“Eu só vi a Camila naquela dia, depois as enfermeiras levaram ela para tomar banho. Minha mãe apareceu chorando, dizendo que ia me levar de volta para minha cidade, que minha filha tinha morrido e que Deus ia me dar outros filhos. Eu já tinha amamentado ela, chorei demais, entrei em prantos”, recordou.
E assim ela passou pela dor do luto, sem saber que, na verdade, sua filha foi levada para ser criada por outra família, que a registrou com outro sobrenome. Na sua cidade natal, há quase um dia de distância de Teresina, não tinha como saber de sua filha – e foi por isso que sua mãe a obrigou a voltar.
“Mas a situação na casa da minha mãe nunca foi boa e eu acabei saindo de casa ainda menor de idade, fui morar com outro homem. Acabei engravidando, aos 17, de uma menina que acabou falecendo”.
Foi somente 10 anos após o parto que sua tia, ao visitá-la no Ceará, afirmou que sua primeira filha, a Camila, estava viva.
“Ela disse que minha filha era minha cara. Eu custei a acreditar, disse que minha filha tinha morrido. Aí fui falar com minha mãe, que afirmou que deu para um casal criar. Eu implorei para me dizer quem eram. Cheguei a ir atrás, mas não a encontrei”, relembrou.
No seu coração, no entanto, o sentimento de que um dia a encontraria sempre foi presente. “Eu nunca perdi as esperanças, desde essa vez que minha tia me disse. Sempre tive no meu coração esse sentimento. Eu sabia que um dia a encontraria”.
Hoje Lurdes é casada e mãe de um filho, que tem oito anos. Mas seu sonho, de ter uma menina, lhe foi negado. “Eu sempre quis ter uma filha e não pude criá-la”, disse. Mas ela afirma que, no entanto, perdoou sua mãe pela situação. “Dei o perdão, mas ainda existe um sentimento por tudo que aconteceu “.
O reencontro
Foi há menos de um mês que Lurdes recebeu uma ligação que mudaria tudo: era uma de suas irmãs, dizendo para ligar para sua tia de Teresina. E assim ela fez. “Ela me disse que a Camila apareceu na casa dela, que já sabia de toda a história, que queria meu número e que queria me ver. Foi uma bomba. Eu fiquei sem reação”, contou.
“A Camila ficou sabendo de tudo porque ambos os seus pais de criação faleceram. Antes de sua mãe de criação ir embora, ela contou tudo para a Camila e falou sobre minha tia, que com ela poderia encontrar informações sobre mim”, continuou.
Na primeira vez que elas conversaram a emoção foi imensa. “Ela me ligou e disse quem era, que era minha filha. Eu fiquei tão, mas tão feliz. E fico todas as vezes que falo com ela. Ela disse que me ama, que entende toda a situação, que sabe que não fui eu quem provoquei tudo isso. E também descobri que já era avó, de três netos. Foi uma bomba, tudo de uma vez”.
Agora, o intuito é o de se conhecerem pessoalmente. “Ela quer vir para cá, mas quer trazer meus netos e o marido. Só que como ele trabalha como pintor não registrado, a condição financeira é complicada. Eles são beneficiários do Bolsa Família, que é o que ajuda na renda. Mas a passagem de ônibus de lá para cá para cinco pessoas não é barata. Enquanto o momento não chega, a ansiedade só aumenta”, reiterou.
Agora, Lurdes se apega às mensagens enviadas via WhatsApp. Por lá, elas trocam fotos, áudios e fazem chamadas de vídeo. “Tudo que eu mais queria é ver ela. É o meu maior sonho”, finalizou Lurdes, com os olhos marejados ao olhar as fotos de sua filha, Camila, que por tanto tempo ansiava por encontrar.
 
					 
			
		 
			
		 
			
		 
			
		 
			
		 
			
		