
Negros e não negros se inserem de forma distinta no mercado de trabalho e os indicadores refletem essa diferença. A pandemia de covid19 afetou todos os trabalhadores, mas os impactos foram mais intensos sobre os negros, seja pela dificuldade que essa população enfrenta para encontrar colocação ou pela necessidade de voltar antes ao mercado de trabalho, devido à falta de renda para permanecer em casa, protegida do vírus.
Entre o 1º e o 2º trimestre de 2020, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 8,9 milhões de homens e mulheres saíram da força de trabalho – perderam empregos ou deixaram de procurar colocação por acreditarem não ser possível conseguir vaga no mercado de trabalho. Desse total, 6,4 milhões eram negros ou negras e 2,5 milhões, trabalhadores e trabalhadoras não negros.
A partir do momento em que as pessoas começaram a buscar voltar ao mercado de trabalho, a taxa de desocupação cresceu. A comparação do volume da força de trabalho do 2º trimestre de 2021 com o mesmo período de 2020 mostra que a força de trabalho negra cresceu 3,8 milhões (1,79 milhões de homens e 1,97 milhões de mulheres). Já entre os não negros, o aumento foi de 2,3 milhões (963 mil homens e 1,38 milhões de mulheres).
Porém, quando se compara 2021 com o 1º trimestre de 2020, antes da pandemia, nota-se que parcela expressiva de negros não voltou para a força de trabalho: 1,1 milhão de negras e 1,5 milhão de negros. Pode-se dizer que, no 2º trimestre de 2021, enquanto a força de trabalho não negra já equivalia a 92% do total registrado antes da pandemia (1º trimestre de 2020), entre os negros, esse percentual foi de quase 59%, número que levanta a questão sobre o destino desses quase 2,6 milhões de negros e negras.
O número de pessoas que perdeu postos de trabalho por causa da crise sanitária, entre o 1º e o 2º trimestre de 2020, foi de 8,8 milhões. Desses, 71,4% ou 6,3 milhões eram negros: 40,4%, mulheres, 31%, homens.
A comparação entre os segundos trimestres desse ano e de 2020 mostra que, em 2021, havia 2,9 milhões de negros ocupados a mais do que no ano passado – o equivalente a 47,0% do 1º trimestre de 2020.
Para os não negros, os impactos da crise sanitária foram menores: dos 2,5 milhões que perderam as ocupações entre o 1º e o 2º trimestre de 2020, 59% voltaram a trabalhar em 2021. O nível de ocupação ainda não voltou ao que estava no 1º trimestre de 2020: em 2021, são 4,4 milhões abaixo do observado antes da pandemia.
O aumento da taxa de desocupação é visível no 2º trimestre de 2021. Com o avanço da vacinação, muitas pessoas voltaram a buscar colocação no mercado de trabalho, mas a economia brasileira não apresentou dinamismo suficiente para receber esse volume de trabalhadores.
Para os negros, a taxa de desemprego é sempre maior do que a dos não negros. Enquanto para os homens negros, ficou em 13,2%, no 2º trimestre de 2021, para os não negros, foi de 9,8%. Entre as mulheres, a cada 100 negras na força de trabalho, 20 procuravam trabalho, proporção maior do que a de não negras, 13 a cada 100.
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Apesar da volta de grande parte das pessoas ao mercado de trabalho, o desempenho pífio da economia fez uma parcela da mão de obra ficar subutilizada. A taxa de subutilização 11, que expressa a demanda potencial por trabalho, apresentou comportamento diferenciado entre homens e mulheres.
Entre as negras, era de 40,5%, no 2º trimestre de 2020, e 40,9% no mesmo período de 2021; entre as não negras, os percentuais foram menores, mas também crescentes, 26,4% e 27,7% no 2o trimestre de 2020 e nos mesmos meses de 2021, respectivamente. Entre os homens, nesses mesmos períodos, a subutilização diminuiu: para os não negros passou de 19,1% para 18,5% e, entre os negros, de 29,4% para 26,9%.
Um ano depois do início da pandemia, sem que a vacinação tenha atingido 100% da população, o mercado de trabalho seguiu cambaleando, em sintonia com a economia que não cresceu: o assalariamento sem carteira no setor privado (16,0%), o trabalho doméstico sem carteira (14,9%), o trabalho por conta própria (14,7%) e o trabalho familiar (8,7%) foram os que mais se ampliaram, quando se compara o 2º trimeste de 2021 com o mesmo período de 2020.
No caso dos não negros, para os homens, o aumento mais expressivo ocorreu no assalariamento sem carteira no setor privado (13,6%) e no trabalho conta própria (12,2%), enquanto para as mulheres, houve ampliação de 20,5% no trabalho por conta própria e de 12,8% no emprego doméstico sem proteção legal.
Informalidade crescente para todos os trabalhadores, negros e não negros, é reflexo da desconfiança sobre o futuro do país e da ausência de rumo da economia brasileira, problema acentuado pelos efeitos da reforma trabalhista, que não gerou empregos e arrancou direitos dos trabalhadores, e pela pandemia, que acontece diante de um estado omisso diantes das dificuldades crescentes dos brasileiros.
Marcha da Consciência Negra
A Marcha da Consciência Negra contra o Bolsonorno, acontece neste sábado (20), às 9hrs e o ponto de encontro será no ponto final do ônibus Rápido Luxo Campinas, no centro de Jundiaí.
Fonte: Dieese.