
O porteiro Douglas Marques da Silva, 36 anos, de Biguaçu (SC), deu sua vaga de emprego para um colega que seria demitido. Sabendo de todas as dificuldades que o colega passava e que estava como temporário cobrindo férias, Douglas ouviu o coração e deu sua vaga para o colega.
O ato de generosidade aconteceu no começo de julho, de acordo com a sua irmã mais velha, Debora Marques da Silva Torres, 41 anos, que mora em São Paulo. Ela contou que quando recebeu a mensagem do irmão, ficou muito emocionada.
“Eu chorei na hora e confesso que fiquei bem surpresa com a atitude dele, afinal eles deixaram emprego e toda família aqui em São Paulo, para começarem do zero e sozinhos em Santa Catarina, mas na mesma hora eu o apoiei e meu coração parece até que se aqueceu”, disse.
Tudo começou quando Douglas um dia deu carona para o Marcio, na viagem, o colega começou a contar para ele o que estava vivendo.
“Ele começou a falar sobre o câncer que o filho enfrentou aos 8 anos debaixo da língua e de um tumor que acabou de ser diagnosticado no pulmão aos 12 anos. Isso me tocou, a minha irmã, a Débora enfrentou um câncer e acompanhei de perto sua luta contra a doença”, afirmou Douglas.
No começo do ano, Douglas e a esposa levaram um susto. A filha deles, de 10 anos, também tinha sido diagnosticada com tumor na língua, após exames e finalmente no dia da cirurgia, os médicos viram que era apenas um canal salivar entupido.
“Sofremos muito. Não queria preocupar ninguém, mas na época liguei para o meu pai e contei, ele veio com sua esposa de São Paulo pra cá e ficaram conosco”, disse.
Marcio ainda contou para Douglas todo o sofrimento do filho que perdeu o maxilar e com muita dificuldade ganhou uma cirurgia e tratamento de um médico de Portugal. O menino vai ganhar um maxilar de titânio.
“Ele mostrou as fotos da cirurgia do filho e disse que o garoto se alimenta somente de líquidos até hoje e que gasta em torno de R$ 600 por mês com a alimentação especial. Em casa conversei sobre o assunto com minha esposa, e isso me perturbou a semana toda, não conseguia tirar isso da cabeça”, contou Douglas.
“Já estavam com a demissão dele pronta para o dia seguinte”
Conversando com o colega no dia a dia, Douglas descobriu que o contrato de trabalho do Marcio era de 60 dias.
“A cada plantão ele se mostrava mais preocupado em perder o seu trabalho, em meio a tudo isso, seu filho deu início ao tratamento no mesmo hospital da criança onde havia levado minha filha, fiquei muito mal com tudo aquilo e sentia algo crescer dentro de mim, consegui então um bico de segurança com um conhecido para complementar a renda e envolver o Marcio, mas o grupo estava completo”, recordou.
Assim, Douglas conversou com a esposa e explicou o que estava sentido em seu coração. Com apoio da esposa, no dia seguinte ele ligou para o supervisor e informou que estava disposto a abrir mão de seu emprego, desde que a vaga fosse para o Marcio.
“Meu supervisor ficou incrédulo e de início se recusou a ceder minha vaga a ele, diz que eu era um bom funcionário e que não deveria sair por conta de problemas de outras pessoas. Por fim, ele elogiou bastante a minha atitude e disse que não havia onde encaixar ele, até me mostrou que já estava com a demissão dele pronta para o dia seguinte”.
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Sentimento de missão cumprida
Douglas até o momento está desempregado e faz “bicos” como segurança. Mas ele não se arrepende do que fez.
“Senti que era o certo a se fazer. O desespero de um pai de família em perder seu emprego com um filho doente. Sim, na hora de assinar a demissão me deu uma certa insegurança, mas me mantive firme em minha decisão”.
“O Marcio está bem, graças a Deus, está trabalhando no condomínio e não se cansa de me agradecer, me engrandecer e dizer que eu marquei a vida dele e de sua família, fico até sem jeito com tudo isso, eu só ouvi o meu coração”, finalizou.
Fonte: Razões para Acreditar