
O governo de Jair Bolsonaro decidiu distribuir livros na Polícia Rodoviária Federal (PRF) com recomendações aos servidores para que leiam a Bíblia. À GloboNews, servidores da corporação relataram incômodo com a atitude, relatando que o governo não deveria misturar religião e trabalho.
Com uma mensagem encaminhada aos servidores, a PRF tratou a distribuição dos livros como uma “assistência espiritual” para os servidores. A Polícia Rodoviária Federal afirmou que não registrou queixas na Ouvidoria sobre a distribuição dos livros.
De acordo com o Ministério da Justiça, a distribuição se refere à “atenção à saúde integral dos policiais” em razão do estresse da atividade. O intuito é estimular a religiosidade em encontros a partir da distribuição de livros a gestores.
A GloboNews teve acesso aos documentos do “projeto fé” do governo. A expectativa é distribuir os livros para todas as superintendências estaduais da PRF, recomendando orações diárias.
As orientações e reação dos servidores
De acordo com as orientações do governo, os livros são parte do projeto Capelania e traem “mensagens diárias devocionais”. Um trecho diz: “Estimular a espiritualidade, contribuindo para o bem estar e qualidade de vida do servidor PRF, melhorando o seu desempenho nas atividades diárias”.
“Sugerimos o uso coletivo do livro, no próprio ambiente de trabalho”, acrescenta o documento. Os agentes relataram á GloboNews “constrangimento” com a chegada dos livros.
O incômodo com a presença da religiosidade no ambiente de trabalho, segundo os relatos, “é injustificada”, e que pode ser traduzida como “violação de liberdade religiosa” por não abranger todas as religiões.
Os servidores também afirmam que a questão é “delicada” e “gera constrangimento” porque, apesar de não ser obrigatório, o projeto de distribuição de livros “estimula o exercício da fé no ambiente de trabalho, duas coisas que não deveriam se misturar”.
O que diz a PRF
A Polícia Rodoviária Federal informou, após ser procurada pela GloboNews, que não há queixas registradas na Ouvidoria do órgão sobre o projeto. E, sobre o fato do projeto não incluir outras religiões, a PRF disse que, caso haja servidores interessados em atividades, precisam prestar um pedido.
“As atividades de religiões não representadas formalmente – não só as de matriz africana, mas também budistas, hinduístas, muçulmanos, entre outras – poderão ser realizadas no âmbito da Instituição ,mediante solicitação dos servidores interessados e demanda que as justifique, cabendo ao servidor responsável pela gestão da Capelania PRF viabilizar o contato com os ministros religiosos dos credos solicitantes”, respondeu o órgão.
A PRF informou ainda que não houve gasto de dinheiro público e que o projeto não obriga a participação de ninguém.
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