
O professor Francisco Del Moral Hernández, doutor em Ciências da Energia pela Universidade de São Paulo e docente na Fatec de Jundiaí, analisou um documento, a pedido dos jornais El País e The Guardian, que atesta um grave erro na Usina Hidrelétrica de Belo Monte.
O documento, emitido pela Norte Energia SA, empresa concessionária da usina, mostra que há problemas no projeto. Com o título “Ação urgente para controle do nível do Reservatório Xingu da UHE Belo Monte”, o documento foi enviado pelo diretor-presidente da empresa, Paulo Roberto Ribeiro Pinto, à diretora-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Christianne Dias Ferreira.
No documento, de acordo com reportagem do El País, o diretor-presidente afirma que “o atual período de estiagem tem se mostrado bastante crítico, com vazões afluentes baixas no Xingu, sendo nos últimos dias da ordem de 750 metros cúbicos por segundo”.
“Essa é uma obra muito complexa, então ela consta de dois barramentos. Um é o barramento principal, que foi construindo seccionando o rio sobre a Ilha de Pimental. Essa barragem seccionou o rio e desvia boa parte da vazão desse rio para um outro reservatório, que se chama reservatório intermediário, que é um reservatório artificial”, explicou o especialista ao Tribuna de Jundiaí.
Para o correto funcionamento da estrutura, a usina precisa manter uma vazão acima de 700 metros cúbicos. “No entanto, o Rio Xingu exibe, no seu histórico dos últimos 100 anos, vazões muito altas nas épocas de cheia, mas também valores menores nas épocas de estiagem”, continuou Francisco.
Se a usina não mantiver uma cota de nível mínimo de 95,20 metros no reservatório intermediário do Xingu, pode ocorrer a formação de ondas negativas, já que esse reservatório recebe fortes ventos.
“Essas ondas negativas, formadas pelo vento, podem afetar a parte mais inferior da barragem, que fica exposta. Essa barragem foi feita por concreto, pedra compactada e por rochas. Mas essa parte que fica exposta, em épocas de estiagem, não é protegida por rochas”, reiterou o docente.
Com isso, pode haver danos estruturais à principal barragem do Rio Xingu, que tem vários quilômetros de extensão. O valor mínimo do nível do reservatório, de 92,20 metros, foi atingido no último dia 10 de outubro, data anterior ao envio do documento.
“A gente não pode contar com um elemento surpresa. Essas vazões mínimas observadas agora, já foram observadas no passado. Quando nós pegamos a informação a respeito das vazões do Rio Xingu nos últimos 100 anos, nós observamos vazões muito baixas. Meses em que tivemos 900 metros cúbicos por segundo, 477 metros cúbicos por segundo, 733 metros cúbicos por segundo… Especialmente nos meses de agosto, setembro e outubro”, continuou o especialista, que em 2009 discutiu os riscos de Belo Monte no Parlamento Europeu.
“Esses engenheiros não poderiam alegar ignorância, porque até as próprias tabelas do Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica da obra e as tabelas de vazões médias mensais desde 1931 mostram que esse tipo de estiagem já era verificado. Foram gastados bilhões de dólares nessa usina, sendo que boa parte desse financiamento foi feito por bancos públicos e por fundos de pensão de empresas públicas. A sociedade brasileira, de uma maneira geral, acabou custeando uma usina que tem uma eficiência energética muito baixa e agora se apresenta com problemas estruturais muito sérios. Isso é inadmissível e não podemos aceitar a alegação de que não sabiam”, continuou.
De acordo com a reportagem do El País, o temor de que Belo Monte possa romper e acabar com a vida de todos é um pesadelo persistente na vida dos povos do Xingu. Agora, com a confirmação de que há riscos estruturais, esse temor passa a ser maior, assim como a necessidade de um esforço urgente para a correção do problema.
 
					 
			
		 
			
		 
			
		 
			
		 
			
		 
			
		