Quatro meninas com menos de 13 anos são estupradas por hora no Brasil
Quatro meninas com menos de 13 anos são estupradas por hora no Brasil

De todos os estupros cometidos contra mulheres entre 2017 e 2018, cerca de 52,8% tiveram como vítimas meninas de até 13 anos. Isso significa que, a cada hora, quatro garotas dessa faixa etária foram vítimas de violação sexual no país.

No total, incluindo vítimas mulheres (81,8%) e homens (18,2%), foram 127.585 ocorrências nos dois anos. Só em 2018, foram 66.041, o maior número já registrado desde que os dados para esse tipo de crime passaram a ser coletados. É o equivalente a 180 estupros por dia.

As informações são do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e fazem parte do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2019, divulgado na manhã desta terça-feira (10). A pesquisa foi baseada nos dados dos boletins de ocorrência enviados pelos estados à entidade.

Segundo o estudo, 75,9% das vítimas, mesmo as que têm mais de 14 anos, possuem algum tipo de vínculo com o agressor. São parentes, companheiros, amigos. Em 96,3% dos casos, os autores são homens.

“Esses números revelam uma das faces mais perversas da nossa sociedade, para qual a gente evita olhar. É pensar que aquele vizinho tão simpático, que conversa com você todo dia, o pai da amiga ou o primo podem ser estupradores”, diz a diretora-executiva do fórum, Samira Bueno.

“Não é sobre sexo. É sobre dominação, sobre pessoas comuns, que se conhecem. Os casos em que um homem pega a mulher na esquina de uma rua escura são ínfimos. A maior parte das vítimas são agredidas por quem conhecem”, diz Samira.

“E não deixa de ser violência de gênero e machismo porque os agressores têm a ideia de que o homem não consegue conter seu desejo e vai se aliviar onde e com quem quiser, mesmo que se trate de uma criança.”

Quando é feito o recorte dos casos em que a vítima é do sexo masculino, 27% têm entre 5 e 9 anos.

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Samira ressalta a dificuldade para resolver e punir os casos de estupro de vulnerável, ou seja, quando a vítima tem até 14 anos.

“É difícil juntar provas, muitas vezes não há material genético para ser colhido. É só a palavra da criança, da qual se costuma duvidar. Precisamos saber o que acontece com os autores dos crimes: ele foi absolvido? Foi preso? Que resposta o Estado tem dado para esses casos?”, questiona. “Precisamos de conselhos tutelares mais atentos.”

A invisibilidade dada a esse tipo de crime também dificulta a punição. “O quadro se torna ainda mais grave na medida em que os depoimentos de crianças, com certa frequência, são questionados por falta de credibilidade, além do silêncio e por vezes da cumplicidade que envolve outros parentes próximos”, informa o Anuário.

Com informações da UOL.