Os quatro réus responsáveis pelo incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em 27 de Janeiro de 2013, ficaram mais de quatro meses presos, mas foram soltos e permanecem em liberdade, até hoje. Após mais de oito anos da tragédia, eles vão a julgamento, no que é considerado o maior da história do judiciário gaúcho. O Tribunal do Júri começa nesta quarta-feira (1) em Porto Alegre e deve durar cerca de 15 dias.
Os réus são os dois sócios da boate —Elissandro Callegaro Spohr, conhecido por Kiko, e Mauro Londero Hoffmann— e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira —o produtor musical Luciano Augusto Bonilha Leão e o músico Marcelo de Jesus dos Santos. Os quatro serão julgados por 242 homicídios simples e por 636 tentativas de assassinato, levando em conta, respectivamente, os mortos e feridos no incêndio da boate.
Eles foram presos no dia seguinte à tragédia, porém, em 29 de maio de 2013, foram soltos após decisão da 1ª Câmara Criminal do TJ-RS (Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul). Na época, o desembargador Manuel Martinez Lucas entendeu que não havia mais fundamento o argumento para pedir a prisão preventiva dos quatro. “Não se vislumbra na conduta dos réus elementos de crueldade, de hediondez, de absoluto desprezo pela vida humana que se encontram, infelizmente com frequência, em outros casos de homicídios e de delitos vários”, afirmou o desembargador, na decisão.
No começo de novembro, um documentário foi lançado no qual se traz um diálogo do advogado Jader Marques com Spohr, em uma viagem de carro entre Porto Alegre e Santa Maria. A gravação acabou sendo criticada por famílias e sobreviventes da boate Kiss. Em coletiva de imprensa na última sexta-feira (26), Marques explicou a finalidade do documentário.
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“Nos últimos quase nove anos nós ouvimos e nos deparamos com as manifestações das mais diversas de pessoas que sofrem e tem um sofrimento legítimo. É legítimo o sofrimento dessas pessoas e, ano a ano, esse sofrimento se agravava pela demora no processo. Nós, de maneira silenciosa, permanecemos observando todo esse movimento que foi de produção de uma série de conteúdos e documentários, entrevistas, dessas pessoas expondo sua indignação e sofrimento. (…) O documentário foi o registro de um sofrimento diário que nunca veio a público (de Spohr) porque o entendimento até aqui é de que todos os que sofrem são legitimados em seu sofrimento, mas o dele nunca foi. E até hoje”, disse o advogado, que se refere inicialmente às famílias das vítimas.