O Campeonato Brasileiro de Futebol foi marcado pelas polêmicas geradas em torno do VAR (Video Assistant Referee), o popular “árbitro de vídeo”. Por não concordarem com lances decididos pelo apoio tecnológico, clubes como Corinthians, São Paulo e Vasco (este último, inclusive, exigiu anulação da partida contra o Internacional/RS) reclamaram muito com a CBF (Confederação Brasileira de Futebol).

Tudo isso colocou em dúvida a missão do equipamento de auxiliar o trio de arbitragem a diminuir erros de interpretação nos jogos. Os torcedores entraram na onda e fizeram diversas montagens (memes) sobre o tema para brincar na internet.

VAR
Torcedores não perdem tempo e VAR se torna piada na internet após erros (Foto: Rede Social)

Em Jundiaí, dois especialistas aceitaram o convite do Tribuna de Jundiaí para analisar as reclamações e opinar sobre o uso do VAR no País. Por que existe tanta reclamação no futebol brasileiro?

Para Rafael Porcari, ex-árbitro, administrador de empresas, professor e consultor em arbitragem de futebol, há muita vaidade em relação às decisões dos juízes em campo. Ele explicou que a tecnologia disponibilizada pela CBF para os jogos também é muito diferente da empregada nos campeonatos europeus, por exemplo.

Além disso, segundo ele, o uso do VAR em muitos lances acabou sendo usado para eximir o árbitro central de responsabilidades. Dono de um blog, Porcari tem vários textos comentando sobre o equipamento com críticas contundentes.

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Presidente da Arad (Associação Regional de Arbitragem Desportiva), o protético dentário e árbitro de futebol Antônio Costa, o Toninho, também concorda que alguns árbitros deixaram de decidir lances e transferem para o VAR essa responsabilidade. Ele lembrou que o Campeonato Paulista deste ano, que terá início na próxima semana, também terá o árbitro de vídeo em todas as partidas.

Confira os tópicos da entrevista feita com os especialistas:

rafael porcari
Ex-árbitro escreve sobre o tema em um blog (Foto: Arquivo Pessoal)

Rafael Porcari

Qualidade e vaidade

“O problema do VAR brasileiro é a dificuldade em encontrar árbitros que estejam preparados para usar o equipamento e também a transferência de responsabilidade. Temos hoje um grupo específico que está se especializando nele, mas dentro de campo há duas situações que envolvem vaidade: se o VAR for muito jovem, o árbitro de campo não acata a decisão do vídeo. Já se for muito experiente, ele segue cegamente o que foi dito”.

Câmera lenta

“Estamos tendo um problema de interpretação de lances. Quando você usa a câmera lenta, isso deturpa a dinâmica do jogo. Por mais experiente que ele (árbitro) seja, não é um técnico de TV. Você acaba sendo influenciado por isso. Quando comecei a comentar jogos, tive que tomar muito cuidado para não emitir uma opinião enviesada por estar num ambiente com ar condicionado, sem pressão… Isso tem grande diferença! O VAR no Brasil está dependendo muito de equipamentos tecnológicos, como traçar a linha virtual. Você tem a cena do vídeo, não precisa esperar a linha… é um pouco de medo em assumir responsabilidade”.

Menos estrutura

“Os equipamentos no Brasil não são os mesmos usados no estrangeiro, lá fora é tudo independente. Não temos o mesmo número de câmeras que tem na Europa, por exemplo. Aqui os árbitros ficam nos estádios, na Europa eles estão em uma central tecnológica, dentro das federações”.

Profissionalização

“Precisa de um quadro de árbitros profissional, que vai ser treinado à exaustão para não falhar. No Brasil eles fazem parte de cooperativas e sindicatos, que não integram o quadro de funcionários da CBF. Se não profissionalizar, não há VAR que ajude a resolver os problemas de campo”.

antonio costa arad
Toninho (à frente) é presidente da Arad (Foto: Arquivo Pessoal)

Toninho Costa

Importante

“O VAR é uma ferramenta importante, pois ajuda a legitimar o resultado. A nossa cultura é diferente do restante do mundo, recentemente tivemos um gol irregular que decidiu o título do Mundial de Clubes. O árbitro de vídeo focou no impedimento e não notou o toque na mão do atacante, que invalidaria o gol. Teve um ou outro comentário ali e só”.

Cobrança

“O brasileiro cobra muito, vê o futebol como algo extremamente importante. Existem muitos aspectos no Brasil que precisamos que as pessoas lutem e isso, em muitos casos, não acontece. No futebol, porém, as brigas são constantes”.

Erro tecnológico

“No jogo entre Vasco e Inter/RS não poderia ter acontecido (o erro), mas foi uma falha do equipamento e não da equipe de arbitragem. Pode ocorrer”.

Usando errado

“Evoluir e aprender a usar a ferramenta. Muito árbitro e auxiliar está usando o VAR como muleta: se tem condições de definir o lance, não precisa esperar o árbitro de vídeo! O VAR é uma ferramenta sensacional, veio para acabar com 90% dos erros, mas está sendo usado de maneira equivocada. Precisamos avançar mais para ficar perfeito”.

Exemplo para CBF

“Este ano, no Paulistão, vamos ter VAR em todas as partidas e esperamos que os árbitros paulistas possam se tornar referência para o restante do País”.