
O barítono Guilherme Rosa, de 43 anos, morador de Jundiaí e artista do Theatro Municipal de São Paulo, acaba de conquistar um feito impressionante fora dos palcos. Em novembro, ele concluiu com sucesso a BRM 1000 de Cabreúva, uma das provas de ciclismo de longa distância mais desafiadoras do Brasil, com 1.004 quilômetros percorridos em 74 horas e 40 minutos e cerca de 13 mil metros de altimetria acumulada.
A prova, organizada pelo Audax ABC sob os rígidos padrões do Audax Club Parisien, exige que os atletas completem o percurso em até 75 horas, de forma totalmente autossuficiente, enfrentando longas subidas, mudanças climáticas e trechos noturnos. Dos 11 ciclistas que largaram, apenas seis concluíram o desafio.
O que é a prova Audax e como funciona o desafio dos 1000 km
Guilherme conheceu a modalidade há alguns anos e se apaixonou pelo conceito das provas Audax, também chamadas de brevets, que consistem em percursos pré-determinados com limite máximo de tempo. As distâncias oficiais passam por 200, 300, 400 e 600 quilômetros até chegar ao nível máximo, os temidos 1.000 km.
Segundo ele, após completar toda a série no primeiro semestre, encontrou na prova de Cabreúva a oportunidade ideal para o maior desafio. O trajeto, que passava três vezes pela cidade, permitia que ele nunca ficasse a mais de 300 km de casa, o que trouxe mais segurança logística. Para conseguir completar a prova dentro do tempo, ele explica que foi essencial economizar minutos nas paradas para alimentação e descanso, já que seu ritmo de pedal é constante, porém mais lento.
A relação entre o canto lírico e o ciclismo de longa distância
Para Guilherme, o ciclismo e a música caminham juntos. Segundo ele, a formação como cantor lírico exige foco, paciência, resistência e controle respiratório, exatamente as mesmas habilidades exigidas nas provas de longa distância.
“Cantar ópera exige resistência, controle respiratório e concentração. No ciclismo, preciso encontrar um ritmo sustentável, manter o foco e saber lidar com o cansaço físico e mental”, afirma. Ele também destaca que as subidas longas fortalecem a capacidade pulmonar, o que impacta diretamente sua potência vocal.
O artista mantém uma rotina intensa de treinos, com média de 300 quilômetros pedalados por semana, conciliando os pedais com ensaios e apresentações em São Paulo. Ele conta que os horários irregulares do teatro acabam sendo, de certa forma, um treino extra de adaptação, já que nas provas os ciclistas também precisam lidar com todas as variações possíveis de clima e horário.
Superação física, mental e uma mensagem de inspiração
A prova dos 1.000 km exigiu mais do que preparo físico. Nas 75 horas de desafio, Guilherme dormiu apenas 2 horas e 40 minutos. Segundo ele, a privação de sono foi o maior obstáculo, além da logística com roupas para enfrentar dias de muito sol e noites frias, sem contar a atenção constante à hidratação e alimentação.
Nas horas finais, quando percebeu que conseguiria concluir o percurso dentro do prazo, enfrentou uma verdadeira batalha mental. O corpo pedia descanso, enquanto a mente precisava insistir.
“É uma luta interna de paciência, determinação, foco e resiliência”, descreve.

Morando em Jundiaí há cerca de dois anos, Guilherme destaca que as rodovias do entorno facilitaram muito sua preparação. Ele aproveita os treinos para conhecer o interior paulista, que, segundo ele, o fascina cada vez mais.
Em 2024, além de completar a série Super Randonneur (200, 300, 400 e 600 km), ele percorreu também o Caminho da Fé, entre Águas da Prata e Aparecida, em estradas de terra. Agora, encerra o ano de 2025 com o maior desafio da carreira esportiva.
Por fim, o barítono deixa uma mensagem de motivação: muitas vezes os maiores limites estão na mente. Segundo ele, foi a coragem de enfrentar o que parecia impossível que tornou essa conquista real. “No fim das contas, a jornada é linda e recompensadora”, resume.