Nesta quarta-feira (20), Joe Biden tomou posse como o novo presidente dos Estados Unidos, e anunciou medidas de fortalecimento da agenda climática e ambiental. Isso pode trazer uma pressão maior para o setor de agronegócio brasileiro, para reforçar medidas de combate ao desmatamento, de acordo com especialistas.

Além disso, o Brasil e os Estados Unidos disputam o maior cliente de agronegócio no mundo, a China. A guerra comercial entre os EUA e a China acabou beneficiando as exportações do Brasil. No entanto, é esperado que Biden tenha uma relação melhor com a potência chinesa do que seu antecessor, Donald Trump.

Confira abaixo os possíveis impactos para o agronegócio do Brasil, com o novo governo dos EUA.

Pressão em políticas ambientais

Biden, diferente de Trump, tem maior comprometimento com a agenda ambiental. Por isso, especialistas avaliam uma maior possibilidade de pressão para que o Brasil e o agronegócio fortaleçam políticas nessa área. Durante um dos debates com Trump, o novo presidente chegou a citar o Brasil. Na ocasião, Biden disse que haveria “consequências econômicas significativas”, caso o país não parasse de destruir a floresta amazônica.

“Enquanto diversos países do mundo criticaram as queimadas no Pantanal e o desmatamento na Amazônia, Trump se manteve em silêncio. Ele não ajudava o Brasil, mas não atrapalhava. Agora vai mudar porque o Biden já chega com uma agenda ambiental e climática forte”, diz o especialista em gestão ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Raoni Rajão, para o G1.

Além disso, o especialista ainda acredita que uma possível pressão ambiental dos EUA poderia gerar penalizações para produtos nacionais. “O Biden tem uma posição diferente do Trump em relação ao multilateralismo e, por isso, ele deve voltar a fortalecer a OMC [Organização Mundial do Comércio]. Uma das funções dela é estabelecer regras para os mercados internacionais, como penalizações, se um alimento está contaminado, por exemplo. Hoje não existe nenhuma regra na OMC em relação a produtos que venham do desmatamento, mas isso pode mudar“, diz.

‘Pouco provável’

Já para Felipe Serigatti, pesquisador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV Agro), mesmo com a expectativa de que Biden direcione esforços para acordos multilaterais, é pouco provável que ocorra alguma penalização ao Brasil em relação a questões ambientais. A análise tem em vista que a entidade está enfraquecida há muitos anos.

Atualmente, os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil. Mas as vendas da agropecuária representaram apenas 5,7% do total das exportações para o país norte-americano. Enquanto isso, a indústria de transformação detém 86% desse volume, de acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.

Imagem do agronegócio

Serigatti conta que está otimista com o governo Biden, e avalia que o Brasil deve aproveitar o momento para “mitigar os problemas ainda existentes” na área do agronegócio. “Se o pessoal está oferecendo recursos para que a gente resolva o problema do desmatamento, vamos aproveitar a oportunidade para revertê-lo”, diz o pesquisador da FGV. Ele se refere à declaração de Biden, de que ele levantaria “US$ 20 bilhões (…) para o Brasil não queimar mais a Amazônia”.

De acordo com o pesquisador, o maior desafio do agronegócio brasileiro a partir de agora é reverter a imagem negativa do setor.

“Precisamos trabalhar para reverter essa imagem mostrando as coisas positivas que já temos. Quando a gente olha para a produção de grãos, por exemplo, nós já adotamos técnicas de baixa emissão de carbono“, aponta Serigatti. “E, em relação à pecuária, nós fizemos, de 2010 a 2018, uma recuperação de pastagens degradadas do tamanho do Reino Unido.”

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Com informações do G1.