Mino Carta.
Foto: Divulgação/ Carta Capital

Morreu nesta terça-feira (2), aos 91 anos, o jornalista Mino Carta, fundador e diretor de redação da CartaCapital. Há um ano, ele enfrentava problemas de saúde e, em sua última internação, passou duas semanas na UTI do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

Trajetória de um ícone do jornalismo

Parte essencial da história da imprensa brasileira, Mino Carta iniciou sua carreira aos 27 anos, quando aceitou o convite de Victor Civita para dirigir a recém-criada revista Quatro Rodas, da Editora Abril. Apesar de confessar que “não sabia diferenciar os modelos de carro”, ali descobriu o talento para comandar redações e criar projetos inovadores.

Foi responsável por lançar algumas das publicações mais influentes do país: Veja (1968) e IstoÉ (1974). Também esteve à frente da equipe fundadora do Jornal da Tarde (1966), reconhecido pela modernidade na paginação e pela qualidade literária das reportagens que inspiraram gerações de jornalistas.

Outro projeto marcante foi o Jornal da República (1979), criado em parceria com Claudio Abram. Embora tenha considerado sua maior frustração profissional, a publicação se tornou referência pelo conteúdo crítico e ousado.

Origens e primeiros passos

Nascido em Gênova, na Itália, em 1932, Mino vinha de uma família com forte ligação ao jornalismo. Seu avô, Luigi Becherucci, dirigiu o jornal genovês Caffaro até ser afastado pelo regime fascista. Seu pai, Giannino, foi preso em 1944 por se opor a Mussolini, mas conseguiu fugir e, após a Segunda Guerra, mudou-se para o Brasil para trabalhar na Folha de S. Paulo.

Ainda adolescente, Mino teve seu primeiro contato com a profissão ao escrever artigos sobre a Copa do Mundo de 1950 para jornais italianos, a pedido do pai, que “odiava futebol”. Embora tenha iniciado o curso de Direito, logo desistiu e voltou à Itália em 1956, onde trabalhou na Gazetta del Popolo, em Turim, além de atuar como correspondente de veículos brasileiros.

De volta ao Brasil, foi peça-chave em projetos inovadores e revelou nomes fundamentais da imprensa nacional, como José Hamilton Ribeiro, Paulo Patarra, Fernando Mitre e Nirlando Beirão.

Conflitos com a ditadura

A coragem de enfrentar o regime militar marcou sua trajetória. Na primeira edição de Veja, em 1968, militares se irritaram com a capa que trazia uma foice, e no ano seguinte, uma reportagem sobre 150 casos de tortura também provocou revolta. A redação passou a ser alvo de agentes da repressão, e Mino chegou a ser interrogado duas vezes.

CartaCapital: o projeto da vida

Em 1994, Mino lançou a CartaCapital, considerada por ele a melhor revista de sua carreira. A publicação nasceu em sua sala de estar, ao lado de “meia dúzia de companheiros de longa data”, e tinha como pilares “fidelidade à verdade factual, exercício do espírito crítico e fiscalização do poder onde quer que ele se manifeste”.

Além de jornalista, também foi escritor, com obras como Castelo de Âmbar (2000), A Sombra do Silêncio (2003) e A Vida de Mat (2016).

Um legado insubstituível

Dono de estilo único, avesso às novas tecnologias e fiel à sua inseparável máquina de escrever Olivetti, Mino costumava dizer que “os computadores engoliriam a humanidade”. Seu olhar crítico, sua resistência em tempos de censura e sua contribuição para o jornalismo independente marcam um legado que atravessa gerações.

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