Projeção de luzes no local que ficavam as torres gêmeas em NY antes do atentado de 11 de setembro
Foto de Olga Subach na Unsplash

Cerimônias, homenagens às vítimas do maior ataque terrorista já sofrido pelos EUA marcam esta quarta-feira (11). O ‘Tributo em Luz’ iluminou o céu de Manhattan no local das Torres Gêmeas desde a noite da véspera, o presidente Donald Trump participou do momento de silêncio diante da Casa Branca. 

Mas, a data também é lembrada por pessoas que ainda sofrem com o ataque dos aviões sequestrados e usados como armas por terroristas ligados à rede al-Qaeda, como é o caso de Jaquelin Febrillet, de 26 anos, que trabalhava a duas quadras das Torres Gêmeas quando os jihadistas derrubaram o complexo de prédios em 11 de setembro de 2001. 

Em 2016, 15 anos depois dos atentados mais mortais da história, a sindicalista profissional, hoje mãe de três filhos, foi diagnosticada com um câncer com metástases. A única explicação lógica: a nuvem de cinzas e resíduos tóxicos na qual se encontrou imersa no dia da catástrofe.

Além dela, Richard Fahrer, de 37 anos, trabalhou frequentemente no sul de Manhattan como agrimensor de 2001 a 2003. Há 18 meses, após sentir dores no estômago, os médicos detectaram um câncer agressivo de cólon, uma doença que costuma afetar homens muito mais velhos e, para o qual não tinha nenhuma predisposição. 

Além das cerca de 3 mil pessoas falecidas e mais de 6 mil feridas no desabamento do World Trade Center, Nova York ainda não terminou de contar às pessoas vítimas de câncer e outros males graves, sobretudo de pulmão, ligados à nuvem tóxica que permaneceu durante semanas sobre o sul da ilha.

Memorial 11 de setembro
Foto de Sedric Benson na Unsplash

Danos irreversíveis…

Dezenas de milhares de bombeiros, socorristas, médicos ou voluntários mobilizados para o ‘Ground Zero’, onde ficavam as Torres, foram os primeiros afetados

De acordo com a revista científica ‘The Lancet’, essas pessoas apresentavam riscos maiores de sofrer câncer. Um censo do WTC Health Program, um programa federal de saúde reservado aos sobreviventes dos atentados, indica cânceres em 10 mil deles. 

Jaquelin Febrillet e Richard Fahres fazem parte das pessoas “comuns” que trabalhavam ou residiam no sul de Manhattan quando aconteceu os atentados, uma categoria de doentes que não para de aumentar. 

No fim de junho passado, mais de 21 mil deles tinham se registrado no programa de saúde, duas vezes mais que em junho de 2016. E desses 21 mil, cerca de 4 mil foram diagnosticados com câncer de próstata, mama ou pele. 

“É impossível para um indivíduo determinar a causa exata (de um câncer), já que nenhum exame de sangue vem com a etiqueta WTC”, mas vários estudos mostraram que “a taxa de câncer aumentou entre 10% e 30% nas pessoas expostas”, explicou à AFP David Prezant, chefe médico dos bombeiros nova-iorquinos.

Ainda de acordo com o médico esse número deve aumentar no futuro, em consequência do envelhecimento das pessoas expostas os riscos de câncer aumentam com a idade. 

Indenizações

No fim de julho deste ano, o presidente Donald Trump ratificou uma lei que adiou de 2020 para 2029 a data limite para apresentar demandas ante um fundo federal especial de indenização. 

O fundo deve ser regularmente refinanciado, após ter esgotado seu orçamento inicial de 7,3 bilhões de dólares, com uma indenização média de 240.000 dólares por doente e de 682.000 dólares por pessoa falecida.

Após adiar várias vezes a data limite do Fundo, o Congresso reconheceu que deveria-se poder cobrir “uma pessoa que era bebê (durante os atentados), até o fim de sua vida”, explica o advogado Matthew Baione, que representa Febrillet e Fahrer em seus trâmites de indenização.

“Nunca houve um ataque comparável ao de 11 de setembro”, ressaltou. “Ninguém podia prever o que aconteceria com bilhões de toneladas de materiais de construção em combustão durante 99 dias”, que liberaram no ar quantidades inéditas de produtos químicos, entre eles dioxinas, amianto e outras substâncias cancerígenas.

[tdj-leia-tambem]

À espera de conhecer todas as consequências da tragédia para sua saúde, Febrillet e Fahrer lamentam que a cidade de Nova York não tenha feito mais após os atentados para proteger os residentes e trabalhadores do bairro.

“Poderia ter havido mais esforços para limitar a exposição dos adultos saudáveis e impedi-los de entrar na zona da catástrofe”, disse Fahrer.

A prioridade era que “a cidade voltasse à normalidade, que a Bolsa de Nova York reabrisse após alguns dias”, mas “nunca nos disseram que algo poderia acontecer com as pessoas”, ressalta Febrillet.

Maior ataque terrorista nos Estados Unidos

No dia 11 de setembro de 2001, quatro voos foram sequestrados e usados como armas por terroristas ligados à rede al-Qaeda. Dois aviões se chocaram contra as Torres Gêmeas de Nova York, um se chocou contra a fachada oeste do Pentágono, em Washington, e outro foi jogado contra o solo de um campo vazio de Shanksville, na Pensilvânia.

Os ataques deixaram quase 3 mil mortos, a maioria na área de Manhattan, e levaram a uma longa guerra no Iraque e no Afeganistão, que até hoje são afetados por conflitos violentos. Até 2018, mais de 1.100 vítimas que morreram nas Torres Gêmeas ainda não haviam sido identificadas.