
Em um momento, o vale era um pântano tranquilo. Gramíneas e palmeiras lançavam sombras difusas na água abaixo. Os peixes espreitavam cautelosamente nas margens dos manguezais. Os orangotangos procuravam frutas com os dedos. Daí um gigante adormecido acordou de seu sono.
Isso aconteceu por volta de 72 mil a.C., na ilha de Sumatra, na Indonésia. O supervulcão Toba entrou em erupção, no que se acredita ter sido o maior evento desse tipo nos últimos 100 mil anos. Uma série de explosões estrondosas explodiu 9,5 quatrilhões de quilos de cinzas, que se espalharam em nuvens que escureceram o céu e se arrastaram por cerca de 47 km na atmosfera.
Na sequência, uma vasta área em toda a Ásia foi coberta por uma camada de poeira maciça de 3 a 10 centímetros de espessura. Ela sufocou as fontes de água e grudou na vegetação como cimento —depósitos da erupção foram encontrados tão longe quanto a África Oriental, a 7,3 mil km de distância.
Mas, crucialmente, alguns cientistas acreditam que o evento extremo mergulhou o mundo em um inverno vulcânico que durou décadas — e quase extinguiu nossa espécie.
“Gargalo populacional”
Em 1993, uma equipe de pesquisadores americanos estudou o genoma humano em busca de pistas sobre o passado profundo e descobriu uma assinatura reveladora de um grande “gargalo populacional”. Neste momento, a humanidade encolheu tão drasticamente que todas as gerações subsequentes que surgiram fora da África se tornaram significativamente mais próximas.
Estudos posteriores revelaram que nesta era precária, que pode ter ocorrido entre 50 mil e 100 mil anos atrás, a população pode ter se reduzido a apenas 10 mil pessoas — o equivalente aos habitantes do sonolento assentamento de Elkhorn em Wisconsin, nos Estados Unidos, ou o número de indivíduos que participaram de um único casamento coletivo na Malásia, em 2020.
A parte menos afetada do mundo pelo vulcão foi a África, onde a diversidade genética permanece alta até hoje — neste único continente, existem diferenças genéticas maiores entre certos grupos locais do que entre africanos e europeus.
Alguns acham que esse momento não é uma coincidência — eles acreditam que foi a erupção vulcânica que fez isso. A ideia é muito contestada, mas não há dúvida de que grande parte da humanidade descende de um número relativamente modesto de ancestrais super-resistentes.
Explosão populacional
Um avanço rápido de 74 mil anos na história e nossa espécie, outrora um obscuro primata sem pelos corporais, sofreu uma explosão populacional. Assim, colonizando quase todos os habitats do planeta e exercendo uma influência até nos cantos mais remotos.
Nenhuma parte do mundo é intocada — todos os lagos, florestas e cânions já tiveram algum tipo de contato com a atividade humana.
Hoje, nossa população é tão enorme, com tão pouca diversidade genética fora da África, que um pesquisador observou recentemente que não é tão surpreendente que algumas pessoas pareçam semelhantes a perfeitos estranhos. Há um pool genético limitado que está sendo constantemente reciclado. Além disso, acontecem cerca de 370 mil novas oportunidades (na forma de bebês nascidos) para que essas coincidências “apareçam” todos os dias.
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