Incêndio no RJ
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

A América Latina volta a ser destaque negativo no cenário global de violência. Segundo o novo índice de conflitos divulgado nesta quinta-feira pela organização não governamental ACLED (Armed Conflict Event Location and Data Project), Brasil, México, Equador e Haiti estão entre os 10 países mais perigosos do mundo em 2025.

O levantamento considera quatro indicadores: mortalidade, risco para civis, alcance geográfico dos conflitos e quantidade de grupos armados. No ranking, o México aparece em quarto lugar; o Equador, em sexto; o Brasil, em sétimo; e o Haiti, em oitavo, atrás apenas de Palestina, Mianmar e Síria.

Escalada da violência coloca América Latina no foco mundial

De acordo com a ACLED, o aumento da violência tem sido generalizado na região, com impactos mais acentuados justamente em México, Equador, Brasil e Haiti ao longo de 2025. Os governos dos quatro países foram procurados pela CNN, mas ainda não responderam.

No México, a explosão de conflitos internos após a prisão de Ismael “El Mayo” Zambada, histórico líder do Cartel de Sinaloa, é apontada como um dos principais motores da violência. A organização destaca que a captura, em julho de 2024, desencadeou uma guerra interna e reconfigurou dinâmicas criminais em vários estados.

“Este conflito remodelou a dinâmica criminal em vários estados, dada a abrangência nacional do grupo, e essa reorganização provavelmente continuará a alimentar a violência em novas áreas ao longo do próximo ano”, afirma a ACLED.

Somente em Sinaloa, o número de homicídios cresceu 400% após a prisão de Zambada, contrastando com as mensagens do governo da presidente Claudia Sheinbaum sobre queda geral nos assassinatos.

Além disso, a violência política também se intensificou. A ACLED contabiliza 360 ataques contra políticos e funcionários públicos no último ano, cenário exemplificado pelo assassinato de Carlos Manzo, prefeito de Uruapan.

Equador dispara no ranking e vive onda inédita de violência

O Equador registrou a maior escalada no índice: subiu 36 posições em relação a 2024 e agora ocupa o 6º lugar entre os países mais perigosos.

A organização aponta três fatores principais para a crise:

  1. Confrontos entre Los Lobos e Los Choneros;
  2. Fragmentação das facções após a queda de líderes;
  3. Crescente importância do país no tráfico regional e internacional de drogas.

“Com o aumento contínuo da produção de cocaína, o Equador está se tornando um ponto estratégico crucial, com gangues equatorianas expandindo suas redes por toda a região e além”, afirma o relatório.

Segundo a ACLED, a violência ligada a gangues já causou mais de 3.600 mortes em 2025, e a taxa de homicídios pode ser a maior da América Latina pelo terceiro ano consecutivo.

Brasil e Haiti enfrentam avanço de facções e instabilidade

O Brasil aparece na 7ª posição, reflexo da atuação de grupos criminosos que disputam territórios. Um dos episódios mais marcantes do ano foi a megaoperação policial no Rio de Janeiro, em outubro, contra o Comando Vermelho, que terminou com mais de 120 mortes — a mais letal da história do estado.

Já o Haiti, em 8º lugar, vive um cenário de instabilidade constante desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse, em 2021. As gangues ampliaram seu controle especialmente em Porto Príncipe, mas a atuação criminosa já se espalha por outras regiões.

Diante da crise, o Conselho de Segurança da ONU aprovou neste ano a criação de uma força multinacional com mais de 5 mil integrantes para tentar conter a violência.

Militarização não resolve a longo prazo, alerta especialista da ACLED

A analista sênior da ACLED para América Latina e Caribe, Sandra Pellegrini, alerta que o envio de mais policiais e militares às ruas não garante resultados duradouros.

Para ela, a “militarização” pode gerar um recuo momentâneo, mas tende a aumentar conflitos e fragmentar grupos criminosos.

“Esta é uma reflexão que deve ser levada aos tomadores de decisão que implementam esses tipos de políticas que, em muitos casos, não levam aos resultados esperados”, afirmou à CNN.

Pellegrini destaca ainda que há pouco espaço político para revisão dessas estratégias. Políticas de “tolerância zero” seguem populares, enquanto os Estados Unidos pressionam países da região a intensificar ações contra o narcotráfico.

Ranking: os 10 países mais perigosos do mundo em 2025, segundo a ACLED

  1. Palestina (mesma posição de 2024)
  2. Mianmar (mesma posição de 2024)
  3. Síria (mesma posição de 2024)
  4. México (mesma posição de 2024)
  5. Nigéria (mesma posição de 2024)
  6. Equador (subiu 36 posições)
  7. Brasil (caiu 1 posição)
  8. Haiti (subiu 3 posições)
  9. Sudão (mesma posição de 2024)
  10. Paquistão (subiu 2 posições)