
A literatura econômica apesar da sua grandeza, ainda não trouxe nenhuma abordagem sobre o fenômeno da inflação causada pela pobreza. Talvez porque esse evento ocorre exclusivamente em países subdesenvolvidos, e não desperta interesses para desenvolver uma base literária sólida com o objetivo de compreender, solucionar e prevenir esse problema.
A queda na renda em países ricos não é estrutural e logo é corrigida com o aumento da produtividade dos meios de produção e com efeitos positivos na renda da sociedade, gerando equilíbrio nas curvas de demanda e oferta. No combate a inflação os remédios são aplicados a partir de diagnósticos baseado em causas como pressão da procura, aumento de custos de produção e especulação preventiva dos produtores repassando custos futuros.
Portanto se por ventura não resolver a patologia os sintomas aponta para algo desconhecido, obviamente a doença é incógnita. Observando a reação dos agentes que buscam adaptação ao ambiente hostil, está caracterizado que a causa da inflação em mercados subdesenvolvidos é ausência de escala de vendas proveniente das oscilações bruscas na renda dos grupos sociais. Observam também que a maioria da população tem seus salários corroídos pelos aumentos dos preços dos bens de subsistência, como comida, água e energia.
Pleno emprego dos fatores é função de produtividade, uma vez em elevação continuada gera procura por bens e serviços, estimulando o aumento na capacidade de oferta do conjunto de produção e a elevação dos investimentos diretos e consequentemente aumento no nível de rendas. Geralmente o governo adota politicas de estímulos para equilibrar as variáveis da demanda agregada. Para estimular o consumo das famílias, reduz impostos e disponibiliza credito, no caso brasileiro atualmente os efeitos serão quase nulos, pois apenas uma minoria tem renda tributada e baixo risco para viabilizar empréstimos e financiamentos.
Esse cenário já é o suficiente para inviabilizar investimento produtivo, o qual daria dinamismo, pois é o combustível que faz a roda da economia capitalista girar. Na atual conjuntura é mais racional tributar o setor exportador e isentar a importação de tecnologias para corrigir as imperfeições nas cadeias produtivas e recuperar e eficiência de setores importantes.
Na pratica os empresários para se defender da instabilidade econômica adota suas estratégias de defesa como: elaborar preço de vendas em dólar norte americano, redução da produção para eliminar o risco de estoque, estabelecem prazo longo para entrega de produto acabado. As mudanças são inúmeras que chegam até a provocar o fenômeno da “reduflação”, ou seja, diminuir o produto para não aumentar o preço. Infelizmente esses movimentos quebram elos das correntes produtivas diminuindo a eficiência dos ofertantes.
Em uma economia de mercado a estabilidade social depende também do acesso à renda por toda a coletividade e o desenvolvimento econômico está condicionado à produtividade dos meios de produção, algo possível mediante uma pedagogia universal e sensível às transformações da sociedade globalizada.
O Brasil é a sexta população do planeta e tem recursos de produção suficientes para avançar, mas esbarra na dificuldade dos produtores em sair da defensiva e elaborar planejamento em longo prazo, devido aos riscos diversos e os mais graves é o empobrecimento dos trabalhadores e a incapacidade do Estado em ofertar serviços públicos básicos de qualidade, traçar planejamento econômico sem amarras politicas e interferir na economia para corrigir as imperfeições geradas pelo dinamismo dos mercados tudo isso são primordiais para formar uma sociedade solida e igualitária.
“Creio que tenho prova suficiente de que falo a verdade: a pobreza”. Sócrates Filósofo Grego, 469-399 a.C.
Everton Araújo, brasileiro, economista e professor
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