A economia brasileira na corda bamba

“É horrível assistir à agonia de uma esperança” frase da escritora francesa Simone de Beauvoir é uma boa referência para fazer uma reflexão sobre a realidade da economia brasileira. As previsões elaboradas por especialistas do mercado “especulativo” é uma fantasia com intuito de criar expectativas positivas para a sociedade e evitar incertezas causadas por pressão das massas de trabalhadores e produtores na economia “real”.

Essas brevidades induzem os agentes que realmente produzem a acreditar que dias melhores virão, e renovam suas esperanças. O ilusionismo da falsa expectativa cria uma euforia e não permite uma analise racional do conjunto de variáveis agregadas que compõem a formação do produto interno bruto e os efeitos sobre seus negócios.

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 1,0% no primeiro trimestre de 2022 na comparação com o quarto trimestre de 2021, puxado pelo setor de serviços, mas ficou abaixo da expectativa, a projeção era de alta de 1,2%. O crescimento apesar de comemorado ficou longe do ideal para recuperar os níveis de ocupação e atrair novos investimentos.

Puxado pelo setor de serviços que estava em inércia, não é sustentável por ser totalmente dependente do consumo das famílias, as quais estão afetadas pela inflação galopante, escassez de crédito e desemprego em alta. Outro indicador que incomoda é o desequilíbrio na balança comercial, exportação pautada em bens primários, principalmente alimentos e a dependência de tecnologia importada para alavancar a produtividade o que não está ocorrendo.

Esse comportamento do comércio externo, também afeta os custos de fretes para os exportadores devido à ruptura no corredor de comércio, causando instabilidade e desajustes na conta corrente.

Uma alternativa racional e urgente é o estimulo estatal aos investimentos em infraestrutura e produtividade. Como exemplo a economia da China que mobilizou os bancos estatais ofertando uma linha de crédito de 800 bilhões de yuans (cerca de US$ 120 bilhões) para o financiamento de projetos de infraestrutura, como parte dos esforços do governo para estimular a segunda maior economia do planeta. O país não vai se recuperar com delírios dos comandantes que dedicam tempo em promover soluções absurdas como a revolução a partir de minerais como grafeno e nióbio, que apesar de importantes para algumas demandas, não temos o domínio do beneficiamento desses materiais e nem investimentos em pesquisa e tecnologia nessa linha.

Apontar também o setor agrícola como promissor não é verdadeiro pelo grau de dependência de tecnologias, insumos estrangeiros e elevadas barreiras externas por produtos industrializados dessa procedência. Já é percebido que a esperança está agonizando na unidade de tratamento intensivo e a economia tentando se equilibrar na corda bamba e o bastão está em mãos tremulas.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Tribuna de Jundiaí.

Everton Araújo é brasileiro, economista e professor.