A Era das contradições. O jovem rico no oriente e a pobreza no ocidente

Um espaço econômico com um protagonismo no que tange ao desenvolvimento de novas tecnologias, principalmente em áreas como inteligência artificial, inovação de hardware e reconhecimento facial, com as startups avançando em enorme velocidade e conquistando milhões de internautas. Inovação e tecnologia moldam a vida nesse território, como por exemplo, fazer compras, quase todos osestabelecimentos não operam mais com cartões de crédito e moeda fiduciária, os pagamentos sãoexecutados por celular. No quesito mobilidade é um modelo de sustentabilidade e facilidades, toda a frota de ônibus e táxis são de veículos elétricos, grande parte do sistema de delivery de restaurantes a serviços de entregas expressas, são feitos com motonetas elétricas.

Nas relações de trabalho é notável a revolução, pois uma parcela significativa dos jovens profissionais trabalha em coworks, que estão espalhados por toda a cidade, imaginando criar o próximo unicórnio com valor de mercado superior a US$ 1 bilhão de dólares e conquistam. A segurança pública que é um desafio em quase todos os aglomerados urbanos do mundo está sendo solucionada com tecnologias e regras rígidas. A felicidade provocada por sucesso profissional já pode ser observado por acesso à renda, pois bastaobservar nas ruas uma quantidade cada vez maior de jovens desfilando em carros de luxo das marcas famosas como: Jaguar, Tesla, Porsche, Mercedes, Aston Martin e outros tantos. Lojas de grifes que é o desejo material da maioria dos humanos estãolotadas de consumidores em todas as esquinas. Não faço referência a San José na Califórnia, Hamburgo na Alemanha, Milão na Itália ou outra região próspera do ocidente capitalista. Essa e a realidade das cidades ricas e modernas da China comunista e estou expondo a metrópole de Shenzhen, a qual já é um dos locais mais visitados da terra.

Em outro ponto do globo essa faixa etária juvenil que chega a um quarto da população vive expectativas similares com realidades bem diferentes. Conforme dados oficiais uma parcela significante desse universo de pessoas não conseguem qualificação profissional o suficiente para ser absorvido pelo mercado de trabalho. A ausência de oportunidades para aqueles que já concluíram o ensino superior,infelizmente serve de parâmetros para os mais jovens e mesmo impulsionado pela prosperidade de outras regiões do planeta caem na zona de conforto e abortam os sonhos, talvez por falta de lideranças capazes de desenhar projetos consistentes e duradouros.

Observando o comportamento desse grupo social é fácil perceber que desejam viver em uma sociedade próspera, pois até buscam chancespara estudar e trabalhar, porém desistem talvez pela brevidade que a sociedade da informação lhes impõe. Nessa região alguns jovens até vivem umasensação de pertencimento, quando por muitoesforço conseguem adquirir um bem material e faz adaptações para tentar romper os padrões. Muitos frequentam os outlets em busca de preços acessíveis para adquirir uma marca que está fazendo sucesso no momento, ou até adquirem produtos similares as de grife famosas com intuito de saciar um desejo breve, mas, no entanto está muito distante da realidade dos orientais prósperos. Ao analisar esse parágrafo muitos leitores vão imaginar que estou fazendo alusão a alguns países pobres da América Latina, Ásia e África e obviamente excluindo o Brasil devido a sensação de que somos uma nação rica por natureza. 

O Brasil tem 50 milhões de jovens entre 14 e 29 anos que não conseguiram completar o ensino básico, como mostra a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O ciclo básico de aprendizagem termina quando o estudante se forma no ensino médio. Ainda entre os jovens brasileiros, 55,6% dos homens param de estudar porque precisam trabalhar. Entre as mulheres, 38,7% diz que precisa realizar tarefas domésticas e cuidar de outras pessoas. Esse cenário é um horror, pois essa juventude sem acesso a qualificação e renda serão idosos pobres e país de filhos miseráveis. Estou convicto que isso é um projeto de Nação, tendo em vista que a educação é o pilar central de sustentação da sociedade e se comparar os modelos pedagógicos aplicados nas escolas que estudam jovens pobres e os dos colégios de ricos é totalmente discrepante e está explicito os objetivos, que é formar serviçais, sem se importar com o desperdício de talentos que obviamente são ofuscados pela qualidade do ensino que é ofertado. E lamentavelmente não é por falta de recursos financeiros, pois o Estado brasileiro em todas as esferas tem grandes orçamentos para a educação. 

Vivemos a era das contradições, tendo em vista que apenas os cinco brasileiros mais ricos têm um patrimônio equivalente ao que tem a metade mais pobre da população do país, revelou um relatório da ONG britânica Oxfam. Enquanto jovens na China comunista consomem 35% dos bens de luxo produzidos na terra, os brasileiros ditos capitalistas estão perdendo o encanto e até os sonhos, pois as expectativas estão cada vez mais distantes da realidade da maioria. Essa tal liberdade tão propagada é uma enganação. Ser livre em sociedades capitalistas é ter acesso à grana para financiar seus movimentos, sem essa condição, é apenas mais um andarilho vivendo seus delírios.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Tribuna de Jundiaí. Everton Araújo é brasileiro, economista e professor.