
Um dos grandes desafios das nações era encontrar um padrão monetário confiável para propiciar equilíbrio na economia internacional, o qual permitisse a cada país uma base monetária, através da paridade cambial gerando equilíbrio principalmente da balança comercial. A Inglaterra liderou as transações de comércio por décadas com o padrão ouro/libra, mas com o crescimento de outros mercados, os quais passaram a fazer oposição, desencadeando em conflitos comerciais e bélicos levando ao desequilíbrio do sistema vigente.
Duas guerras mundiais e uma crise financeira global interrompeu o padrão imposto pela Coroa Inglesa e um novo ordenamento foi estabelecido em Bretton Woods na poeira das cinzas da Segunda Guerra. O novo sistema estabeleceu conversibilidade ao metal precioso para todas as moedas, porem com o requisito de superávit primário, o que beneficiou apenas os Estados Unidos, por ser o grande financiador do plano de reconstrução da Europa e Japão. Esse padrão não durou muito tempo devido à expansão capitalista que criou fortes competidores fora do espaço americano, deteriorando progressivamente sua hegemonia produtiva e comercial e assim surgindo à oportunidade dos liberais americanos impulsionarem a globalização como ordem econômica e a sua moeda como reserva de valor do sistema internacional.
A crise de liquidez do dólar no inicio da década de 1970 e a queda na oferta de petróleo, foram movimentos que tiveram consequências nas taxas de juros dos EUA e obrigou os demais países avançados a buscar superávits comerciais para financiar os déficits da conta de capital e a realização de políticas monetárias e fiscais restritivas para reduzir a absorção doméstica. Essas mobilidades aceleraram o processo de globalização, mesmo porque essa nova ideologia descarta os controles de capitais como instrumentos relevantes, dessa maneira o grau de liberdade do movimento dos capitais é o elemento central na constituição de um sistema monetário internacional. O outro aspecto relevante é o regime cambial com taxas fixas ou flexíveis, visto que um regime de livre mobilidade de capitais só é compatível com um sistema cambial de taxas flexíveis. Tal sistema é adotado pelas nações e passa a ser requisito positivo apontado pelas agências de rating, as quais tutelam os ciclos dos ativos.
Com a ascensão economia da China, surgem pensamentos sobre a adoção de moedas alternativas ao dólar para realizar o comércio entre os países emergentes. Esses impulsos demonstram que a globalização financeira somente beneficia com mais vigor o EUA que tem a moeda como núcleo do sistema, mantendo subordinadas as demais economias, as quais são obrigadas a carregar os riscos nas taxas de juros e câmbio, mantendo o sistema intacto e garantindo maior flexibilidade as autoridades monetárias do país emissor da moeda de referência global.
Acredito que a desglobalização está em curso, entretanto a ruptura do modelo surgirá uma nova ordem mundial, a qual pode ter como base o desenvolvimento compartilhado adotado pela China sem a imposição adotada pelo imperialismo ocidental como visto nos últimos séculos. A desconfiança no dólar norte americano como reserva de valor, aumentou após os embargos econômicos aos russos com a invasão ao território ucraniano, permitindo aos asiáticos utilizar nas relações de troca no comércio internacional outras moedas, principalmente as emitidas nas praças da Índia e China. Entretanto algo muito pequeno para a estruturação de um Arcabouço Monetário Internacional com a confiança do que está estabelecido.
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