Moedas e cédulas de dólar e real
Foto: Edson de Souza Nascimento/Freepik

Brasil, ano 2019, a economia já dava sinais de instabilidade. Taxa de juros básica da economia muito baixa para a realidade brasileira, indicador oficial de inflação próximo da meta estabelecida pelo Banco Central, mas já pressionado pelos preços dos alimentos e aluguel, moeda doméstica desvalorizada estimulando a demanda externa por commodities, recorde na produção de grãos e superávit comercial satisfatório. Esse cenário estimulou o governo a tomar algumas medidas para incentivar a produção de bens e serviços, mas sem criar estruturas para as possíveis consequências em uma possível mudança no ambiente econômico.

No mês de agosto de 2019 a Caixa Econômica Federal anunciou uma nova opção de financiamento imobiliário utilizando o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) como indexador e dando muita publicidade. Até então, todo recurso captado pelo consumidor para a aquisição de imóveis era feito pelo Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e com indexação pela Taxa Referencial (TR) com variações praticamente nulas. Portanto, com a chegada dessa nova alternativa, as pessoas que procuram linhas de crédito para financiar seu imóvel ganharam mais uma opção aparentemente sem riscos.

O banco e seus economistas praticamente ofertaram uma cilada para o tomador de crédito e até mesmo para a indústria produtora de imóveis e sua poderosa e importante cadeia de suprimentos, transferindo os riscos de carregamento para os clientes e ferindo os seus princípios e compromissos com o desenvolvimento  e fortalecimento da sociedade.

Apesar de duas décadas de estabilidade da inflação, a economia já sinalizava instabilidade, como queda na demanda provocando efeitos negativos na produtividade dos fatores de produção, cadeias produtivas atrelando seus custos ao dólar o que dificulta o repasse ao consumidor, afetando o retorno sobre o capital investido do produtor final, queda na renda média da sociedade e elevados níveis de desemprego e informalidade.

A catástrofe chegou mais cedo que o previsto com a pandemia de covid e vem se agravando com a guerra na Ucrânia e a pressão sobre o fluxo de capital de origem russa. A incapacidade do governo brasileiro para entender a realidade e adotar as politicas corretas para tentar pelo menos estabilizar a sangria, é mais uma demonstração do amadorismo dos gestores e o descaso do Poder Central com o futuro do país.

Como exemplo aponto a conduta da autoridade monetária ao elevar a taxa de juros em um mercado carente de liquidez, é um agravante sem precedentes e somando a isso a ausência de uma direção na condução dos setores de energia e petróleo, pois acumulam elevados lucros sugando todo o conjunto da sociedade, retirando competitividade da produção de bens e serviços e elevando o empobrecimento da massa de trabalhadores. 

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Consultei algumas literaturas sobre como as bolhas se formam nos mercados e procurando observar as particularidades nos fundamentos de cada economia, para evitar as generalizações comuns na imprensa. Segundo o economista americano Hyman Minsky, especialista em crises financeiras, ele aponta alguns estágios que a economia tem que passar para provocar a erupção. Percebi que no caso brasileiro estamos vivendo uma euforia devido às oportunidades de aquisição de determinados bens em alguns segmentos. Entretanto as mudanças nas condições econômicas já estão ocorrendo com muita força e deve provocar pânico no mercado. Os agentes econômicos mais fortes vão se proteger usando até instrumentos desestabilizadores.

O aumento constante da inflação vai pressionar os setores que vendem a prazo, principalmente os imóveis e automóveis; Contratos atrelados aos índices inflacionários aumentam os riscos de inadimplências, e pode ocasionar queda na demanda com impactos negativos também sobre os estoques e nos novos lançamentos. Mas apesar do ambiente turvo, ainda tem uma luz no fim do túnel. 

“Empreendedor é aquele que destrói a ordem econômica existente pela introdução de novos produtos e serviços”. Joseph Schumpeter, economista.

Artigo por Everton Araújo é brasileiro, economista e professor.

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