
A constante queda nos preços dos alimentos no Brasil tem impulsionado a confiança dos consumidores de baixa renda, conforme uma pesquisa divulgada hoje (25) pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). Os dados, obtidos por meio da Sondagem do Consumidor, apontam que as duas faixas de menor renda estão demonstrando maior otimismo em relação à economia. Essa recuperação da confiança é uma demonstração de que a subsistência do cidadão pobre estava ameaçada pelo impacto da inflação de alimentos.
Os alimentos são uma parte significativa das despesas das famílias de menor poder aquisitivo, consumindo quase a renda na totalidade, ao ponto de levar as grandes redes de comércio a ofertar crédito para esses consumidores, fato que sustenta a fragilidade da economia do Brasil. A redução dos preços nesse segmento alivia o orçamento doméstico, gerando um impacto positivo na percepção geral da situação econômica pelos brasileiros que ganham menos, o que deve ser positivo para diminuir a quantidade de desalentados no mercado de trabalho.
Entretanto a queda nos preços chegando apenas nos bens de primeira necessidade, não dilata a curva de produção para a direita imediatamente, pois além do consumo desses produtos serem limitados pela fisiologia, à demanda interna por comida não tem impactos fortes sobre o crescimento econômico, mesmo porque o investimento não é o suficiente para impulsionar o produto interno bruto (PIB) e o gasto público apesar de elevado para subsidiar as cadeias produtivas do setor, não gera tributos.
Diante dessa fragilidade interna a demanda externa por alimentos, torna-se muito importante, pois garante a escala na produção nacional, pressiona a inovação tecnológica nas cadeias de fornecimentos, força os produtores a alinharem seus processos de produção aos princípios de sustentabilidade, garante um forte corredor de comércio externo e ainda ajuda no equilíbrio do Balanço de Pagamentos da Nação.
A teoria econômica aponta que o consumo de supérfluos e a destruição criativa são os grandes responsáveis pelo crescimento econômico. Pois não ocorre o fenômeno da saciedade do consumidor para esses bens e a demanda é ilimitada, claro para quem tem renda disponível. Esse é o grande contraste que o relatório da FGV aponta, pois as faixas de rendas mais altas registraram uma diminuição na confiança o que deve aumentar a resistência dos ofertantes em investir em novos negócios.
A recuperação da economia depende também da confiança dos agentes, compradores e ofertantes e o governo tem um papel fundamental que é buscar o equilíbrio nas suas despesas, pois uma busca constante por aumento de receitas é uma das variáveis que desequilibram a curva de oferta e demanda de uma economia de mercados. Isso demonstra a necessidade urgente de reformas nas estruturas do Estado brasileiro, sem precisar recorrer as bases apontadas no Consenso de Washington, que por aqui apenas serviu para entregar o patrimônio público aos magnatas de plantão, ao invés te cortar o excesso de privilégios na alta hierarquia do Estado Brasileiro.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Tribuna de Jundiaí. Everton Araújo é brasileiro, economista e professor.