
A segurança, a educação e a saúde integram direitos que a sociedade democrática brasileira elegeu como fundamentais para o seu desenvolvimento. Entretanto o direito à segurança possui tamanho interesse para a nosso corpo social que os constituintes expressamente o elevaram à condição de único direito fundamental a ser garantido em seu viés individual e social, conforme dispõem, respectivamente, os artigos 5º e 7º da Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada no ano 1988. Para que o Estado cumpra com os seus deveres constitucionais de preservar a paz social e reprimir as condutas contrárias ao convívio pacífico foram criados os instrumentos de efetivação desses objetivos comuns,
Com o aumento da violência nos grandes centros urbanos, os shoppings centers passaram a ser uma opção segura para fazer compras e afins, e a maioria dos frequentadores é de classe social com poder aquisitivo elevado e por isso tem mais temor a violência. Essa sensação de segurança está sofrendo ameaças, pois em várias regiões do Brasil vem ocorrendo uma onda de assaltos visando às lojas de joias que compõem o aglomerado de comércio e entretenimentos. Alguns ataques dos ladrões ocorrem em horários de pico e até com tiroteios entre seguranças e suspeitos. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, foram três roubos em menos de uma semana – dois terminaram em mortes, houve também alguns casos na Grande Belo Horizonte.
Todavia as forças policiais estão buscando entender os perfis das quadrilhas e se há conexão entre os crimes, como uma demonstração de possibilidades de reação. Para alguns especialistas o alto valor dos produtos roubados e a possibilidade de usar materiais mais valiosos, como ouro e prata, como fonte rápida de dinheiro é o atrativo. A engenharia do crime está a cada dia mais sofisticada e a audácia dos criminosos não temem os mecanismos do Estado, acredito por ter ciência das fragilidades. Leis brandas, corrupção, excesso de burocracia e infraestrutura policial sem sofisticação suficiente para combater as conexões criminosas, são circunstancias para os marginais seguir intimidando a sociedade ordeira.
As mudanças de ecossistemas sociais são permanentes e as pessoas que não se adaptam buscam refúgios. Com a promulgação da Constituição atual, os governantes foram obrigados a universalizar a oferta de educação e saúde, o que agravou a qualidade desses serviços públicos, não por ausência de verbas e sim por incapacidade de gestão dos recursos. As famílias com rendas mais elevadas, ao invés de pressionar o Estado por qualidade nesses setores, migraram para os serviços privados de educação e saúde deixando ainda mais aparente as divisões de classes.
Enquanto o Estado oferece escolas de base e hospitais apenas para dizer que tem, o setor privado coloca a disposição uma gama de produtos e serviços sofisticados e para quase todos os bolsos. No caso da segurança as mudanças estão também nos muros dos condomínios, os quais servem apenas para divulgar o disparate de rendas e talvez facilitar a pesquisa de mercado dos delinquentes sobre a próxima vitima a ser sequestrada para fazer uma transferência bancária, facilitada pela tecnologia.
A sociedade precisa se manifestar urgente sobre o problema da segurança, pois nas periferias já naturalizou e até romantizou ganhando as telas. E agora já está atingindo o topo da pirâmide e a saída não pode ser aceitação e ao invés de enfrentar o problema normalizar. A privatização indireta da segurança pública que está no apelo do governo atual, e que já ocorreu com a educação e saúde não terá o mesmo êxito, dada as condições da variável.
A organização de milícias armadas como ocorreu na cidade do Rio de Janeiro com consentimento velado das instituições do Estado, aponta para o que pode vir a acontecer em todo o país, o que de antemão aparentava ser um modelo interessante e atualmente estão competindo como “poder paralelo” e com características de crime organizado.
Os donos do capital literalmente estão protegidos em seus jatos particulares e seguidos por seguranças inteligentes e armados, porem as pessoas que não tem essa infraestrutura ficam expostos aos riscos e esperando as mudanças prometidas pelos moralistas com usam o medo como degrau para o seus projetos de poder. Acorda Brasil!
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Everton Araújo é brasileiro, economista e professor.