Equipe da Guarda Municipal de Jundiaí.
Foto: Prefeitura de Jundiaí

A trajetória do Canil da Guarda Municipal de Jundiaí é um símbolo de tudo aquilo que a dedicação pública pode produzir quando aliada ao compromisso humano. Criado em 2004, não em razão do decreto ou por investimento inicial da Administração, mas pela iniciativa apaixonada dos próprios guardas municipais, o Canil nasceu de um gesto que se tornou lenda dentro da corporação: GMs que recolhiam e vendiam materiais recicláveis para comprar ração e dar início ao primeiro plantel. Ali surgia, de forma simples e heroica, o embrião de uma das unidades cinotécnicas mais respeitadas do Brasil.

Nos primeiros anos, o Canil trabalhava exclusivamente com cães da raça rottweiler, focados no controle de distúrbios civis e de multidões. Com estrutura limitada, mas guiados por forte espírito de missão, os guardas passaram a buscar especializações em cinotecnia, adestramento operacional e técnicas modernas de policiamento com cães. Essa busca constante por conhecimento transformou a unidade, que rapidamente avançou para atividades de detecção de drogas, armas e aparelhos eletrônicos — uma demanda essencial à época, especialmente para combater a entrada clandestina de celulares e filmadoras na antiga cadeia do bairro Anhangabaú.

A evolução foi rápida e marcante. Em poucos anos, o Canil alcançou reconhecimento nacional ao protagonizar grandes ocorrências. O momento de maior destaque veio com o K9 Athon, responsável por uma das maiores apreensões de drogas do país com emprego de cão policial: nove toneladas de maconha, resultado que garantiu o registro no Rank Brasil e projetou Jundiaí para o cenário nacional de unidades cinotécnicas de alta performance.

Outro marco histórico da unidade foi a formação do primeiro cão policial do Brasil treinado especificamente para detecção de papel-moeda (dinheiro), o K9 Black. Este avanço pioneiro ampliou significativamente a capacidade de atuação da Guarda Municipal em operações de combate ao crime organizado. O feito consolidou o Canil GMJ como referência em inovação e diversificação de técnicas de detecção.

Com o aumento do prestígio, o Canil expandiu sua atuação para o campo social e educacional, realizando apresentações em escolas, casas transitórias e eventos públicos, fortalecendo o vínculo da Guarda Municipal com a comunidade e evidenciando a importância do trabalho integrado entre cão, condutor e sociedade.

Hoje, a unidade é ainda mais completa. O Canil lidera um dos programas de cinoterapia mais consolidados do Estado de São Paulo, iniciado com os cães Black e Pantera e atualmente conduzido pelos labradores Sirius e Maya, que promovem estímulos terapêuticos, acolhimento emocional e humanização em hospitais e instituições. No campo humanitário, cães especializados em busca e resgate de pessoas desaparecidas, como as K9 Live e Cali (bloodhound), reforçam a capacidade da GMJ em missões críticas de salvamento.

O cenário atual é motivo de orgulho institucional: 16 cães policiais, sede própria com infraestrutura moderna, viaturas específicas para transporte de cães, equipamentos de ponta e médico veterinário de dedicação exclusiva, garantindo qualidade de vida, longevidade e alta performance dos nossos K9. A reputação da unidade também foi reconhecida formalmente: o Canil acumula títulos em provas de detecção, agility, técnicas de abordagem e busca e salvamento, além de ter recebido homenagem oficial da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

Em 2025, a produtividade voltou a alcançar números expressivos. Somente este ano, equipes do Canil participaram de operações estratégicas no combate ao tráfico de drogas, incluindo a ação no bairro Sorocabana, que resultou na apreensão de 40 kg de entorpecentes e 40 mil dólares em espécie, desestruturando financeiramente uma operação criminosa. Em sua trajetória, o Canil foi protagonista de ocorrências de grande impacto, como a apreensão de um fuzil calibre 5,56, em 2015, no bairro Cidade Jardim — arma de guerra utilizada pelo crime organizado.

Mais do que uma unidade especializada, o Canil da GMJ tornou-se referência e modelo. Seu trabalho inspirou a criação de diversos canis municipais pelo país, consolidando Jundiaí como polo de excelência em cinotecnia policial e em políticas públicas baseadas em técnica, planejamento e resultados.

Nenhuma história de sucesso se sustenta sem pilares humanos sólidos, e o Canil tem os seus. Entre os fundadores, merece destaque especial o GM Marçal Bonança, adestrador, cinotécnico e referência nacional na formação de cães de trabalho. Marçal não apenas ajudou a construir a unidade quando tudo ainda era improviso — foi também o profissional que dedicou e dedica sua vida ao aprimoramento contínuo do Canil. Sua atuação firme, ética e técnica moldou gerações de guardas e consolidou o padrão de excelência que caracteriza nossos cães farejadores. Sob sua orientação, a GMJ formou alguns dos melhores cães de detecção do país, elevando a performance da corporação e inspirando novos condutores.

O êxito do Canil se deve, sobretudo, aos seus integrantes. Guardas altamente vocacionados, que passam por treinamento constante e por rigoroso processo de ingresso. Para integrar a unidade, é obrigatório concluir o curso de cinotecnia, formação intensiva de um mês que avalia competências técnicas, perfil emocional, ética e a relação com o parceiro canino. É uma seleção que exige disciplina, responsabilidade e profundo respeito ao animal.

Como Secretário Municipal de Segurança Pública, e como alguém que teve a honra de servir nesta unidade, reafirmo com convicção:
o Canil da Guarda Municipal de Jundiaí é um patrimônio da cidade, um símbolo de excelência no serviço público e a prova de que dedicação, conhecimento e propósito transformam a segurança municipal.

O trabalho diário do Canil fortalece a confiança da população na GMJ e demonstra que a segurança pública contemporânea se constrói com técnica, empatia, integração comunitária e resultados efetivos. Há mais de duas décadas, essa equipe honra a farda, eleva o nome de Jundiaí e escreve, ao lado de seus parceiros de quatro patas, um capítulo exemplar na história da cidade.

Artigo por Guilherme Balbino Rigo, Secretário de Segurança Pública de Jundiaí. Rigo é formado em Direito, pós-graduado em Direito e Processo Penal, Direito Constitucional e Direito Público, com ênfase em Gestão Pública.

Guilherme Rigo
Foto: Reprodução/Redes Sociais

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