Prateleiras em supermercado
Foto: khunkorn/Canva

A elite capitalista percebeu que o comportamento de consumo de massa é fundamental para a expansão da produção de bens e serviços, e utilizam os meios de comunicação para estimular às mudanças de hábitos que dão origem a acumulação de cultura material na forma de bens, locais de compra e consumo. O resultado está no aumento cada vez maior do lazer e das atividades de mercado que embora sejam bem vistas para a manutenção do sistema, pois além de manter a hegemonia dos grandes conglomerados empresariais, é também uma forma de manipulação ideológica e controle “sedutor” da população distanciando qualquer alternativa de organização das relações sociais opostas.  Apesar dos benéficos imediatos para o individuo, o consumo patológico, a exploração predatória dos meios de produção e a agressão ao ecossistema do planeta, são as causas dos desequilíbrios nas relações sociais globais e com consequências drásticas principalmente para a base da pirâmide.

A diferença de status determinado pela posse de um determinado produto de elevado valor agregado e raro eleva a sensação de poder e proporciona a penetração em outro grupo social, e para tal aquisição muitas vezes os consumidores se utilizam de produtos financeiros ofertados nas praças. Esse conjunto de indivíduos que tem poder de endividamento financiam seus luxos, os quais ao ostentar seus padrões de consumo, alimentam expectativas em toda a sociedade. O mundo das coisas cria alternativas de prazer, seduz pela necessidade de pertencimento e leva a uma felicidade breve, pois o descontentamento é permanente e logo vai à busca de uma nova aquisição para atender o ego. As classes sociais da base da pirâmide são movidas pela esperança de que um dia pode brilhar nos holofotes da luxuria e fantasia diante das casas de apostas olhando a sequência quase infinita de números, que divulgam os grandes prêmios das loterias, e acreditando no quase impossível diante do espelho dos afortunados, o que mais desejam é uma cesta de produtos raros para a entrada no paraíso do consumo.

Enquanto essa glória material não é alcançada, a maioria vai à busca daquilo que seus grupos sociais colocam como supérfluo, ou seja, frequentar uma praia, fazer um churrasco regado a carnes classificadas como nobres e bebidas consideradas exclusivas para o grupo, além de exibir algumas poucas posses financiadas a perder de vista comum em economias periféricas.

Nas nações capitalistas ricas o trabalhador é um dos pilares da riqueza do país, pois é o detentor da força de trabalho que vai mover a roda da economia, é quem demanda a oferta de bens e serviços do produtor. Esse fluxo circular se mantem equilibrado justamente porque a venda da força de trabalho gera renda suficiente para estimular a destruição da invenção e proporcionar a revolução. Com base nessas premissas é possível analisar o mercado brasileiro, o qual a grande maioria dos trabalhadores não tem renda suficiente para atender as suas necessidades fisiológicas, e como crédito teoricamente pode ser adicionado à renda, os poucos que ainda tem acesso a esse benefício, está utilizando para financiar a comida e a moradia.

O futuro não é nada promissor principalmente para o sonho de 26% dos brasileiros que dependem de bônus do governo para se alimentar segundo um conceituado instituto de pesquisa. E outro dado preocupante vem de um levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), apontando que o endividamento alcançou 79,3% das famílias brasileiras em setembro do ano corrente. Obviamente a origem da inadimplência nesse momento foi à elevação na taxa de juros, que dificulta o pagamento integral do cartão de crédito por exemplo. Outro fator a ser observado é o comportamento da classe média, que corre em busca de crédito, para manter o padrão de vida afetado pela inflação de custos.

Acredito que o Brasil precisa encontrar um modelo de desenvolvimento social e econômico, que possa respeitar a sua diversidade civilizatória, ao invés de impor ideais pautados no valor das coisas acima da vida. Sem uma ruptura no pensamento do empresário brasileiro os benefícios do modelo de organização social da produção capitalista, ficarão restritos a uma minoria, a qual segrega a maioria absoluta da população para manter os seus privilégios. Raspas e restos não interessam…

A nossa felicidade depende mais do que temos nas nossas cabeças, do que nos nossos bolsos.  Arthur Schopenhauer  filósofo alemão 1788.

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Everton Araújo é brasileiro, economista e professor.