Planta nascendo de moedas na terra
Foto: JComp/Freepik

O uso de bens intangíveis no cenário de mudanças climáticas é uma onda crescente na economia. Os serviços ambientais, especialmente carbono, são essenciais nesse campo. É preciso notar que fundos de investimentos globais exigem cada vez mais adequação das empresas e suas cadeias produtivas ao movimento ESG, iniciais em inglês para ações no ambiente, no social e na governança corporativa.

Mas, ainda sem padrões consolidados, tal movimento enfrenta a barreira do “greenwash”, com dados falsos ou apressados que podem voltar-se como efeito negativo para as próprias empresas. Os créditos de carbono, por exemplo, apressam sem regulação internacional um mercado voluntário que lembra as bolsas de commodities, onde o preço da tonelada de carbono equivalente varia a cada dia. Um hectare primário de Mata Atlântica, segundo algumas estimativas, pode chegar a até 500 toneladas de carbono equivalente. Na Amazônia, até 300 toneladas por hectare.

Se grandes consultorias movem esse mercado, ainda geram-se dúvidas sobre a pouca informação de pequenos proprietários ou populações tradicionais na negociação de direitos – e riscos como a apropriação de terras públicas ou camponesas. Mas o carbono, tanto na conservação como no sequestro de plantio, é apenas um dos serviços ambientais, mesmo sendo promissor como negócio de certificados na compensação de emissões de gases estufa. Os serviços ecossistêmicos são mais amplos – e incluem água, sociobiodiversidade, clima ou beleza cênica na equação.

O ESG, como um novo instrumento de gestão, deve mapear riscos e oportunidades – inclusive de inovação, desde empresas grandes até, por cadeias produtivas, pequenas. O E, de ambiental (environment), pode abranger resíduos, efluentes, energia, emissões atmosféricas e recursos naturais. O S, de social, envolve diversidade na equipe, direitos humanos e relações com comunidade, funcionários e clientes. E o G, de governança, inclui a diversidade no conselho, a transparência e a relação com poder público.

Cada empresa adapta sua realidade e seus impactos positivos e negativos. Mas há referências.
As principais são o Pacto Global e a Agenda 2030, ambas das Nações Unidas. O Pacto Global tem dez princípios:

  • Proteção dos direitos humanos
  • Sem violações a esses direitos
  • Liberdade de associação
  • Sem trabalho forçado
  • Sem trabalho infantil
  • Sem discriminação
  • Abordagem ambiental preventiva
  • Promoção da responsabilidade ambiental
  • Incentivo a tecnologias amigáveis
  • Combate à corrupção.

A Agenda 2030, por outro lado, tem 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), cada um com suas metas. São eles:

  • Erradicação da pobreza (seis metas)
  • Combate à fome e agricultura sustentável (cinco metas)
  • Saúde e bem-estar (nove metas)
  • Educação de qualidade (sete metas)
  • Igualdade de gênero (seis metas)
  • Água e saneamento (seis metas)
  • Energia limpa e acessível (três metas)
  • Trabalho decente e crescimento econômico (dez metas)
  • Inovação da infraestrutura (cinco metas)
  • Menos desigualdade (sete metas)
  • Cidades e comunidades sustentáveis (sete metas)
  • Consumo e produção responsáveis. (oito metas)
  • Ação contra mudanças climáticas (três metas)
  • Vida nas águas (sete metas)
  • Vida terrestre (nove metas)
  • Paz, justiça e instituições (dez metas)
  • Parcerias para implementação até 2030 (dezenove metas).

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Existem ainda outros métodos como o GRI, e uma tendência de unificação de padrões nos próximos anos. A regulação do mercado internacional de carbono, por exemplo, é prevista para a COP 27, que pode ocorrer ainda em 2022. Há diferenças sutis em detalhes. Enquanto um relatório ESG é voltado para investidores, um relatório de sustentabilidade é voltado para a comunidade em geral. As nuances, como entre o olhar setorizado e outro do panorama “fora da caixa”, podem ser vistas de maneira integrada na busca de inovações tecnológicas ou nas práticas.

O “botão triplo” do ambiental, do social e do econômico nunca esteve tão atual e necessário. Isso pode ser visto em casos como o Pacto Ecológico, da União Europeia, ou o Green Deal, dos Estados Unidos. Mas é nos grandes fundos que vem ganhando tração. Na ponta, um rumo de interesse para toda a sociedade local, nacional e mundial.

Acionar esse rumo, com êxito crescente e progressivo, requer o envolvimento de colaboradores, fornecedores e comunidade. A motivação depende do sentimento de todos fazerem parte do processo – e deve ser transmitida em linguagem compreensível como estímulo a serem protagonistas de mudanças da ação sobre o clima, a biodiversidade e o futuro da humanidade.

Artigo por José Arnaldo de Oliveira.

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