Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A intensificação da atividade industrial e a crescente demanda por recursos naturais a partir do século XVIII aceleraram significativamente a degradação ambiental e as consequências negativas nas sociedades continuam em evolução. Entre muitas cito as mais perversas: O aumento da exclusão social principalmente nas regiões pobres; o processo migratório forçado provocado pelos desequilíbrios ambientais e a deformação cultural a partir do desrespeito à diversidade, utilizado como estratégia de dominação das minorias.

O dito progresso da humanidade apesar de muitas coisas positivas, mas se contradiz quando: aumentam o processo de exclusão social; deforma as relações humanas chegando à aberração dos conflitos bélicos; fazem uso da escravidão para obter lucros; promovem genocídios para se apropriar das riquezas naturais; aplicam limpezas étnicas para padronizar as ideias e facilitar o controle e a expulsão de nativos de seus territórios com a narrativa de aumentar a oferta de alimentos e energia.

Voltada para os lucros imediatos, a exploração dita capitalista se move por uma lógica de curto prazo, o que é incompatível com o tempo de recuperação da natureza e esse modo de produção é mutante ao ponto de se adaptar as condições, as quais são mais favoráveis, sem se importar com os efeitos negativos sobre a sociedade e o planeta. A engenharia está sempre atenta em busca de novos materiais os quais ofereçam possibilidades de criar novos produtos tanto para substituir os quais as matérias primas estão se esgotando ou causando impacto na poluição dos ecossistemas, atingindo a saúde da coletividade, aumentando a insegurança alimentar e climática. Mas a mudança dessa lógica de produção somente ocorre quando a elevação dos custos nas atividades econômicas afetam negativamente as margens de lucros. Ou seja, as mudanças é função do lucro e nunca da vida.

Mas parece que estamos presenciando alguma racionalidade dos grandes exploradores, pois os movimentos apontam que estão fora do plano estratégico de adaptação do capital ao ambiente de negócios. Acredito que perceberam que o planeta está a um passo de uma crise ambiental sem precedentes, a qual não excluirá nenhum ser humano, independente do meridiano que esteja localizado ou da fortuna que tenha acumulado. Os fortes apelos de desenvolvimento sustentável, economia circular, desenvolvimento verde e  inclusão social já estão na publicidade dos grandes grupos que controlam a economia global. É notório que o aceno tenha cunho promocional, no entanto fortalece a cultura organizacional e forçam ao alinhamento das cadeias produtivas em todo o planeta.

Países da União Europeia estão debatendo e aprovando propostas de crescimento verde, ou seja, com baixo carbono. Por exemplo, a iniciativa New Climate Economy identificou uma oportunidade de aumento de ganho líquido no mundo de US$ 26 trilhões até 2030, se comparado com o business as usual. O Brasil precisa fazer parte dessa tendência para tornar-se mais competitivo e inclusivo, mesmo porque o modelo de desenvolvimento atual vem mostrando esgotamento há tempos, e o país tem o privilegio de conservar grandes reservas de biodiversidades, o pilar central do desenvolvimento de baixo carbono.

A preservação ambiental e o crescimento verde caminham lado a lado com a garantia dos direitos territoriais e a terra, dos povos indígenas, quilombolas, povos e comunidades tradicionais. Apesar da resistência dos ruralistas quanto à demarcação das terras desses povos, com a narrativa de respeito à propriedade privada, algo abominado desde a chegada dos portugueses nesse território, é sabido que os modos de vida dessas comunidades ajudam a manter os ecossistemas intactos, algo impossível na cultura de exploração imediata do mundo do comércio. A manutenção desses povos em seus espaços é a garantia nem só da vida e cultura dessas populações, seu tecido social e suas relações com seus ambientes, assim como a preservação de recursos para atender as demandas das comunidades urbanas e o alinhamento da economia nacional com a nova ordem econômica global em evolução.

“A conservação dos recursos naturais é o problema fundamental. Se não o resolvermos, ficará difícil resolver todos os demais” Theodore Roosevelt (1858-1919).

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Tribuna de Jundiaí. Everton Araújo é brasileiro, economista e professor.