Meninos de Gaza
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Desde o início da ofensiva israelense em Gaza, em outubro de 2023, mais de 64 000 palestinos foram mortos, número reconhecido pela ONU. Um relatório da Associação Internacional de Estudos sobre Genocídio (IAGS), de agosto deste ano, aprovou uma resolução afirmando que as ações de Israel cumprem os critérios legais de genocídio. A ONG Anistia Internacional concluiu que há base suficiente para definir os atos de Israel como genocídio, com evidências de intenção de destruir, em parte ou na totalidade, o grupo palestino em Gaza. Além disso, um relatório conjunto da imprensa revelou que 83% dos mortos — cerca de 53 000 até maio de 2025 — foram civis, conforme dados do próprio serviço de inteligência militar israelense.

Esses números inquestionáveis não podem mais ser vistos como meras estatísticas. Por trás de cada número, há um rosto, uma família, uma vida. É uma mãe que não volta mais, um pai soterrado nos escombros, uma criança que não cresceu.

Atrás de cada um desses tantos nomes sofridos, existe uma história de vida interrompida. Como a pequena Hind Rajab, de apenas cinco anos, que ficou presa dentro do carro em que estava com a família quando foi atacado por um tanque israelense. Ela ligou, chorando, pedindo ajuda: “Por favor, venham me buscar, estou com medo”, ficou sozinha em meio ao massacre e foi encontrada morta dias depois. Hind não era um número. Era uma vida interrompida, uma família destruída, um futuro que nunca chegou.

O que dói é perceber nossa seletividade. Nos indignamos diante de tragédias naturais: terremotos, tsunamis, doenças cruéis que atingem crianças. Questionamos até Deus, perguntamos como Ele pode permitir algo assim. Mas quando a tragédia é planejada por homens, quando não é um desastre da natureza, mas a escolha consciente de matar, de destruir, de usar a fome como arma de guerra, nós calamos. E pior: aceitamos justificativas absurdas. Dizem que havia terroristas nas escolas — junto de centenas de crianças. Dizem que havia militantes nos hospitais — junto de milhares de doentes. Como se isso pudesse legitimar o massacre de inocentes. Que justificativas são essas?

Sempre nos perguntamos como as pessoas, nos anos 40, puderam deixar acontecer o horror do nazismo. Como foi possível que um crime tão brutal se desenrolasse diante dos olhos de tantos? Hoje a resposta está escancarada. Basta olhar para nós. Está acontecendo de novo, e a maioria apenas assiste. O horror só se repete porque encontra terreno fértil na indiferença e no silêncio.

E aí vem a desculpa mais cômoda: “Mas o que eu posso fazer? Quem sou eu para impedir um genocídio?” Você pode, sim, e deve. Pare de financiar a máquina de morte: não compre produtos israelenses nem de empresas que investem em Israel — existe um movimento internacional, o BDS, que pode te ajudar a identificar essas marcas. Vá às ruas, participe de manifestações que denunciam esses massacres. Pressione seu governo, cobre seus representantes — vereadores, deputados, senadores — para cortar relações econômicas com um país acusado de genocídio até que volte a respeitar o direito internacional. Use sua voz, compartilhe em suas redes sociais as notícias, fale com seus amigos, com sua família, com seu entorno. Se indigne, por amor de Deus! Mostre sua empatia, sua compaixão, sua humanidade. Faça algo, qualquer coisa, mas não fique parado assistindo.

Porque no futuro, mais cedo do que imagina, quando alguém próximo olhar nos seus olhos — seu filho, seu neto, alguém que você ama — e perguntar: “E você, que viu o genocídio em Gaza, fez o quê?”, você terá que responder.

Sami Mansour é engenheiro civil com Pre-MBA em Administração de Empresas. Foi Secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia e Assessor Especial de Cooperação Internacional da Prefeitura de Jundiaí, além de Secretário de Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico de Itupeva. Com experiência executiva no setor privado no Brasil e no exterior, participa ativamente de debates sobre geopolítica, economia global e políticas públicas.

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