
O presidente Luiz Inácio da Silva e o vice Geraldo Alckmin publicaram o artigo “Neoindustrialização para o Brasil que queremos” com diversas propostas para recuperar a indústria brasileira que vem perdendo competitividade e também participação no produto interno bruto. Outro fator apontado pelos mandatários é o ranking de complexidade econômica que o país perdeu 25 posições nesse inicio de século e em contrapartida outros países como a China que têm investido em setores de ponta já está na vanguarda da economia global em diversos setores fundamentais para o desenvolvimento da humanidade.
No entanto o que nos deixa desapontado com esses projetos de governos são as bases demonstradas para dilatar a curva da produção para a direita, pois o principal pilar para o progresso tecnológico permanente é a produção de capital humano, mas como os efeitos são demorados e como não servem como peça publicitária para os políticos populistas, é excluída da matriz. Outras variáveis como crédito, desburocratização, subsídios e compras públicas vinculadas que provocam crescimentos imediatos são divulgados a exaustão mesmo sabendo de suas limitações, pois esbarram em fatores diversos pertinentes no sistema de organização social da produção capitalista.
Como a China é a vitrine para outras nações que querem romper o subdesenvolvimento, é conveniente observar os passos largos que esse país continua dando. A continuidade do avanço social e econômico da China está alicerçada principalmente nas novas gerações de pessoas, que são estimulados a “ousar começar um negócio”. O Estado direciona amplos incentivos às startups que atuam em áreas estratégicas designadas pelo governo, como microchips, computação quântica e em nuvem, genética, energia verde e manufatura de alto padrão.
É necessário salientar que as empresas de internet e de plataformas que eram estimuladas e contribuíram muito com o avanço do país, já não são mais vistas como autenticamente inovadoras. Entretanto a base para essa revolução tecnológica foi um projeto educacional do Estado Chinês que atingindo todas as faixas etárias da população e o êxodo programado do campo para os grandes aglomerados urbanos.
Acredito que os economistas do governo ao reconhecer a necessidade de uma política industrial inteligente para avançar nessa nova configuração do capitalismo, deveriam apontar as deficiências na formação de capital humano, algo já corrigido em algumas regiões emergentes. Poderá haver avanços consistentes com uma população de 35 milhões de jovens, grupo que compreende pessoas entre 14 e 24 anos, conforme dados do Ministério do Trabalho e Emprego, com acesso a emprego, renda e escolas capazes de torna-los competitivos em um mercado de trabalho globalizado indiretamente.
Mas infelizmente desse total, apenas 14 milhões tem ocupações, classificação que representa graus diferentes entre quem estuda, trabalha e exerce ocupações informais. Não tem como pensar em algum tipo de futuro promissor para uma sociedade com a juventude sem estudar, e quando tem acesso à escola são punidos pela ausência de adultos prósperos no meio social em que vivem, vitimas de um projeto pedagógico rígido, utópico e burocrático.
De nada adianta o forte apelo de recuperação da indústria para o “Brasil que queremos” sem pavimentar os caminhos para a juventude, pois a revolução tecnológica é consequência da revolução social e o que estamos presenciando é uma degradação do tecido social jamais visto na historia do Brasil.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Tribuna de Jundiaí. Everton Araújo é brasileiro, economista e professor.