Motoboys: os trabalhadores anônimos do combate à pandemia

Antes de tudo, merecem o nosso reconhecimento, nessa guerra contra o coronavírus, os agentes de saúde, médicos, enfermeiras e outros profissionais do setor que, trabalhando no limite de suas possibilidades, em turnos estafantes, têm garantido o acesso daqueles que foram contaminados ao tratamento médico.

A contribuição decisiva para evitar que a rede de saúde ultrapassasse a capacidade de atendimento e entrasse em colapso – o que chegou a ocorrer em alguns casos – foi o conhecido achatamento da curva. Ficar em casa tem permitido, até o presente, a diminuição do ritmo de propagação do coronavírus.

É preciso, por uma questão de justiça, ressaltar que isso não teria sido possível sem o trabalho dos motoboys.

Submetidos, em razão da pequena margem de sua remuneração, a jornadas exaustivas, muitos sete dias por semana, pressionados pela necessidade de garantir o sustento de suas famílias, cumprem uma tarefa essencial, que tem permitido a um número significativo de pessoas seguir as regras do confinamento e permanecer em suas casas.

Por se tratar de uma relação trabalhista nova, como diversas outras que surgiram em razão da informatização, não estão protegidos por legislação específica. As empresas argumentam que não são empregados, mas sim trabalhadores autônomos, já que não têm a obrigação de cumprir uma determinada carga horária, podendo trabalhar ou não, como desejarem. Ocorre que essa obrigação existe em razão da necessidade de gerar renda para as despesas domésticas. De fato, se o motoboy, por conta da sua baixa remuneração, não der um expediente pesado, não poderá por comida na mesa de sua família.

O que fazer?

A categoria vem se organizando e já apresenta um rol de demandas. No dia 27 deste mês, quando celebram o seu dia, pretendem fazer um movimento nacional para divulgar suas reivindicações.

É preciso olhar com simpatia e apoiar esse movimento, o primeiro passo para o início de um entendimento com as empresas, de modo a permitir o estabelecimento de normas adequadas para uma categoria que realiza, de fato, como mostra o seu trabalho neste momento em que somos assolados pela pandemia, uma tarefa de importância social.

Miguel Haddad

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Tribuna de Jundiaí.