
Na hierarquia das necessidades humanas saciar a fome e a sede está no topo das infinitas demandas. A proteção contra os perigos da natureza e a prevenção aos riscos físicos inerentes nas relações humanas, são vistos também como essenciais para a sobrevivência. Em sociedades avançadas esses anseios básicos são colocados como primordiais para toda a coletividade. No entanto nas regiões subdesenvolvidas da terra, a maioria da população carece do básico para o sustento e a insegurança leva as hierarquias locais a oprimir e explorar os exércitos de miseráveis como artificio para se proteger da escassez, perpetuar o domínio sobre os meios de produção e atingir a autossuficiência. Obviamente com a omissão dos oligarcas que comandam as grandes cadeias produtivas globalizadas e tem poderes suficientes para determinar os movimentos da humanidade.
A contribuição da psicologia para a ciência econômica nos permite afirmar que é praticamente impossível completar a autorrealização humana em sociedades com valores pautados no consumo de bens e serviços, pois sempre que um objetivo material é alcançado, surgem novas aspirações alimentadas pela oferta de novas tecnologias. Esse desprovimento de saciedade conforme apontado pelo pensador alemão Ulrich Beck em sua produção literária mais proeminente, a obra Sociedade de Risco, nos leva a apontar os consumidores de bens duráveis, como responsáveis pelos desequilíbrios na sociedade moderna. A exploração predatória do ecossistema, a degradação humana na extração dos recursos naturais e a corrupção da elite politica para favorecer uma indústria carente de consciência humanitária. Essa ausência de humanismo da aristocracia global define a miséria como o destino da maioria dos terráqueos e usa até mídia como instrumento para romantizar a pobreza e assim evitar possíveis revoltas organizadas.
A ostentação passou a ser um valor social e a democratização da informação facilita a exposição das conquistas materiais e quase ninguém escapa do canto da sereia. Esse apelo da indústria pode ser estratégico para expandir suas vendas, mas, no entanto ofusca a visão do “cidadão” quanto às atrocidades humanas que ocorrem nas cadeias produtivas da maioria dos bens de consumo de luxo. Smartphones sofisticados, automóveis raros, jatos e iates têm materiais estratégicos extraídos de regiões pobres e na maioria das vezes de forma clandestina e em condições insalubres e escravagistas. Grifes famosas de vestuários tem histórico de exploração humana degradante, o mesmo ocorre na confecção de joias que utilizam minerais sem se preocupar com a origem.
O ativismo está tímido e com dificuldades para denunciar as atrocidades e provocar as mudanças necessárias na conduta ética das empresas. Obviamente já vem ocorrendo alguns movimentos porem lentos na direção de uma produção justa e sustentável. Essa metamorfose não é motivada por questões éticas e sim estratégicas para elevação de barreiras de entrada para novos competidores. Uma humanização do consumidor poderá acelerar essas transformações, que ao exigir certificados de origem dos bens adquiridos e aproveitar as facilidades de comunicação para denunciar os desmandos dos predadores estimulando até boicotes. Tudo bem que consumir luxo é um desejo insaciável, e na sociedade do espetáculo é preciso mostrar que você pode consumir. Será mais prudente expor que o seu consumo contribui com a dignidade humana e a preservação do equilíbrio do nosso planeta.
“Se você agir sempre com dignidade, talvez não consiga mudar o mundo, mas será um canalha a menos”. John F. Kennedy 35º. Presidente dos Estados Unidos da América.
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Everton Araújo é brasileiro, economista e professor