
O futebol é uma das maiores paixões dopovo brasileiro, mas vem perdendo o encanto nesse século. As causas são inúmeras, a decepção com a seleção nacional nas ultimas copas do mundo pode ser a principal, à falta de autonomia das equipes técnicas em escalar os jogadore sem seus clubes é outro fator relevante, somando a essas a ausência de ídolos identificados com as massas e as supostas manipulações de resultados para beneficiar alguns times, formam o quadrilátero da desgraça.
Basta observar que cariocas e paulistas juntos somam 39 conquistas dos 52 campeonatos nacionais organizados a partir do ano 1971 e apenas um clube do fora do eixo sul-sudeste levantou uma taça, o Esporte Clube Bahia em 1988 e no ano anterior a final não ocorreu conforme estava no regulamento e a confusão perdura até o momento entre o poderoso Flamengo e o figurante nordestino Sport Recife que reivindica a taça.
As arenas com ingressos caros vêmafastando muita gente dos jogos e o entretenimento está deixando de ser popular. Até entendo que é um negócio e para se sustentar precisa ter lucros, algo raro na maioria dos clubes do Brasil que estão endividados devendo milhões em impostos para a sociedade. Outra coisa que chama atenção nesse sistema são as contradições que fogem da lógica, pois enquanto clubes tradicionais vão à falência os seus dirigentes ficam milionários, deve ter alguma explicação para esse milagre da abundância nos cofres dos cartolas. Lembrando que não é uma exclusividade do futebol tupiniquim, os escândalos no futebol europeu são constantes, principalmente na liga italiana, mas com punições pesadas aos participantes, inclusive com rebaixamento dos clubes da elite como a poderosa Juventus de Turim.
A lista de fatos vergonhosos no Brasil é tão grande que muita gente já acostumou e até acredita que seja inerente ao ecossistema, pois não tem punição nos tribunais esportivos que são subordinados aos mandatários. Como exemplos vou citar alguns episódios que envolveram os três gigantes do Rio de Janeiro, Fluminense fugindo dos rebaixamentos, Vasco manipulando a final do Brasileirão contra o miserável São Caetano e o Flamengo que ganhou com manobras da arbitragem o titulo brasileiro em 1981. Pra não ficar apenas no solo carioca, vamos recordar as dúvidas que até a torcida do Todo Poderoso Timão carrega quanto aos esquemas do empresário persa Kia Joorabchian durante a última década do século passado. Até citaria os esquemas errados de outros clubes paulistas, mas como corintiano vou ficar diante do espelho.
O governo sabendo da necessidade de resgatar essas instituições da situação de crise que atravessam, sancionou a Lei nº 14.193/2021, que possibilita novos investimentos com maior segurança jurídica. Portanto abriu uma porta para entrar capital de origem duvidosa camufladas nas Sociedades Anônimas do Futebol, ainda tímidos não mostrou a cara. Mas o que está provocando uma balburdia no meio do futebol é a suspeita de manipulação de resultados e dessa vez não são os patrões e sim os “operários” os envolvidos. E aproveito para parabenizar o Presidente do Clube Vila Nova de Goiás, que quase sem expressão no cenário nacional, denunciou o suposto crime ao suspeitar de algo errado. Será que o Presidente do clube que promoveu o Rei Pelé denunciaria?
A avalanche de denuncias já está tomando conta dos noticiários, envolvendo manipulação de resultados em todos os campeonatos de futebol do país e os atores desse teatro de horrores são os jogadores, muitos dos quais, bem remunerados em seus clubes. Muitos atletas são induzidos facilmente, pois além da grana fácil, carregam o dogma da impunidade presente no subconsciente de uma parcela da população brasileira. Esse episódio é mais uma demonstração da necessidade deregulação das casas de apostas que faturambilhões de dólares sem recolher tributos e ainda abrem esses precedentes para crimes em todas as competições mundo afora, onerando os cofres públicos com as despesas das investigações. A Justiça brasileira tem que investigar não somente o futebol, mas todos os eventos que podem ser usados por esses criminosos, mesmo porque os prêmios são ofertados em quase todas as competições. E descartar a hipótese de paralisar o campeonato brasileiro de futebolo que será uma tragédia os honestos são a grande maioria.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Tribuna de Jundiaí. Everton Araújo é brasileiro, economista e professor.