
No Brasil durante muito tempo falar sobre evangélicos e política era simplesmente um paradoxo, porque havia um entendimento claro de que “irmãos” não deveriam se relacionar com o mundo externo e menos ainda com a política, uma vez que segundo os ensinamentos teológicos da época as pessoas envolvidas nesse tipo de organização contaminavam e sujavam os cristãos evangélicos.
Mas com a democratização o voto passou a ter ”poder” e essas concepções teológicas sobre o mundo e a política tem mudando radicalmente no Brasil, e os novos evangélicos não apenas participam e desfrutam do mundo da politica sem o menor remorso e arrebatam fieis com a promessa da prosperidade universal, e dessa maneira estruturam forças para negociar espaços na direção dos orçamentos públicos. Percebo que a materialização do sagrado está sendo usado para purificação do que era satanizado.
Os novos atores religiosos entraram de cabeça na política promovendo uma guerra espiritual, com objetivo apenas de conquistar e dominar espaços, como informação e formação de conduta social, antes privilégios do monopólio católico e com esse método arrecadar dinheiro em nome da obra de Deus e o que presenciamos são empresários da fé na lista das grandes fortunas individuais no Brasil, o que é uma contradição ao Evangelho de Cristo.
Nesse sentido, os evangélicos deixaram de se perguntar se deveriam ou não participar da política, mas de que maneira deveriam fazer isso e em quem deveriam votar, começando com o apelo de que irmão vota em irmão, e montaram verdadeiros redutos para eleger bancadas fortes em todos os Parlamentos além de ocupar cargos nos Executivos chegando até ao Judiciário. Mas diante de fatos é possível concluir que toda essa força politica tem apenas contribuído para fortalecer quem está no topo da pirâmide das Organizações da Fé, inclusive com o privilégio da isenção de impostos de rendas, mesmo ostentando aviões a jato, aplicações financeiras, redes de comunicação, comum apenas a grandes produtores de bens e serviços que empregam milhares de pessoas e contribuem para o bem estar da sociedade e pagam tributos independentes dos resultados financeiros das empresas.
É interessante salientar que o estimulo a entrada dessas denominações religiosas no jogo do poder, foi justamente à hipótese de uma ameaça do Vaticano em restringir a liberdade religiosa por aqui, algo impossível, pois a nova Constituição do Brasil já garantia a liberdade de culto. Os cristãos evangélicos atualmente buscam alianças de valor político com seus históricos rivais religiosos com o objetivo de empreender agendas “morais” e políticas comuns inclusive estendendo as isenções fiscais aos seus endinheirados lideres.
É percebido que sempre utilizam alguns inimigos comuns, para unir as inúmeras denominações e o medo como estimulante para provocar a euforia nos rebanhos. Já foi o catolicismo devido à ameaça de retenção da fé e o comunismo como o monstro que ia tomar posse das propriedades privadas, as quais existem apenas nos sonhos da maioria dos seguidores. Atualmente estão apoiados na chamada ideologia de gênero, na pauta do aborto e na liberdade sexual. Os lideres fomentam medos recheados de absurdos vistos apenas nas peças de ficções, produzidas exatamente para gerar comoções e enfurecer sentimentos. Todos esses debates em uma sociedade democrática são relativos, mas o problema é que usam para controlar grupos de pessoas e utilizam esses como base eleitoral para barganhar vantagens individuais.
Recentemente a Receita Federal do Brasil, decidiu legalmente suspender uma norma do governo anterior, a qual beneficiava com isenção de impostos sobre salários pagos a líderes religiosos. Segundo o Tribunal de Contas da União, apenas nesse tempo curto de isenção, o impacto sobre os cofres da sociedade foi de R$ 300 milhões. Essa mudança justa da Receita Federal movimentou a bancada de deputados evangélicos, pressionando o Chefe do Legislativo com ameaças de boicotes em pautas importantes para o futuro do Brasil. Gostaria que esse manifesto dos parlamentares fosse em direção a uma justa cobrança de tributos aos brasileiros e não apenas a um grupo de pessoas que aparecem nos púlpitos como artistas sedutores, exibindo riquezas nos vestes e adereços. Tal comportamento nos remete a recorrer a Carta de Paulo a Timóteo, que faz referência do amor ao Deus dinheiro. Será que estão negando os ensinamentos do Evangelho descritos no Novo Testamento, como por exemplo, Mateus 6:24?:
“Nada do que é de Deus é obtido com dinheiro.” Tertuliano. filósofo e teólogo cristão do século II.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Tribuna de Jundiaí.
Everton Araújo é brasileiro, economista e professor.