Lais Lumes
Foto: Arquivo pessoal

Você já notou como algumas marcas se tornaram tão presentes na sua vida que você nem se questiona mais? Aquele café da manhã que vem sempre da mesma padaria, o aplicativo que você abre automaticamente quando acorda ou aquela marca de tênis que você compra o tempo todo.

Por que algumas marcas conseguem esse feito enquanto outras, mesmo investindo milhões em marketing, são esquecidas tão rápido?

A psicologia silenciosa das marcas que ficam

Nossa rotina é repleta de escolhas, certo? Segundo algumas pesquisas, tomamos cerca de 35.000 decisões por dia (loucura, né?). E nisso, nosso cérebro, buscando eficiência, cria atalhos para não se sobrecarregar.

É aí que as marcas inteligentes entram, elas entendem e aproveitam de alguns mecanismos psicológicos fundamentais:

1. Reconhecimento instantâneo: o poder de ser identificado rapidamente

Assim como a gente, o cérebro ama economizar energia. Quando uma marca pode ser reconhecida em poucos segundos, ela ganha uma vantagem competitiva enorme.

Pense na silhueta da garrafa da Coca-Cola ou no símbolo da Nike, você não precisa ver o nome para saber exatamente do que se trata. Esse reconhecimento instantâneo elimina o esforço mental da escolha.

Muitas marcas regionais bem-sucedidas dominaram esse aspecto, sendo reconhecidas imediatamente por elementos visuais como cores específicas, símbolos ou até mesmo a arquitetura de suas lojas.

2. Marcas com consistência sem monotonia: familiar, mas sempre interessante

Ainda falando do nosso cérebro, é comum que ele busque padrões e se sinta confortável com a previsibilidade, mas também precisa de novidade para manter o interesse e engajamento.

As marcas que dominam esse equilíbrio mantêm elementos visuais consistentes enquanto evoluem com sutilidade. A Nubank sempre será roxinha, mas suas campanhas trazem novidade dentro dessa consistência.

Essa consistência explica por que muitas lojas tradicionais mantêm seus clientes fieis há anos: a experiência é confiável, mas nunca completamente estagnada.

3. Associações emocionais: quando a marca desperta sentimentos automáticos

Nossa memória emocional é extremamente poderosa aqui também. Marcas que conseguem criar associações emocionais positivas são lembradas com maior facilidade.

Não é por acaso que a Netflix escolheu o vermelho (cor associada à excitação e entretenimento) ou que bancos digitais optem por tons neons (que transmitem inovação).

Essas associações funcionam muito bem no contexto local também. Uma padaria tradicional de bairro, por exemplo, não vende apenas pão – vende a sensação de aconchego e tradição que muitos associam às manhãs de domingo em família.

4. Zero atrito na experiência: tão fácil que nem percebemos

Talvez o fator mais poderoso e menos comentado: a ausência de complicação. Quanto mais fácil for interagir com uma marca, mais ela se integra naturalmente à nossa rotina.

É por isso que o Pix conquistou o Brasil tão rapidamente ou que o iFood se tornou sinônimo de delivery. A facilidade de uso elimina a necessidade de considerar outras alternativas.

Em muitas cidades brasileiras, serviços locais de entrega, lavanderias e até profissionais autônomos ganharam espaço na rotina dos moradores ao simplificarem processos que antes eram complicados.

Como as marcas aplicam esses princípios no design

A psicologia por trás das marcas se mostra em detalhes visuais específicos, como:

  • Simplicidade visual: logos que podem ser desenhados de memória têm mais chances de serem lembrados. Compare a complexidade de marcas que você mal lembra com a simplicidade das que você reconhece instantaneamente.
  • Paletas de cores consistentes: as cores são processadas pelo cérebro antes mesmo do formato ou texto. Uma paleta distintiva e consistente cria reconhecimento imediato, como o verde do Spotify ou o vermelho da Coca-Cola.
  • Tipografia legível e característica: fontes que equilibram legibilidade com personalidade permitem que a marca comunique sua essência mesmo através das palavras. O Google recentemente redesenhou sua fonte para esse fim.
  • Hierarquia visual clara: marcas que tornam óbvio o que devemos olhar primeiro eliminam o esforço cognitivo, criando experiências mais fluidas e agradáveis.

Como pequenas empresas podem aplicar esses conceitos

Estes princípios não são exclusivos para grandes corporações, como muita gente pensa. Empresas locais de Jundiaí podem aplicá-los de forma eficiente:

  • Identifique seu elemento mais memorável e simplifique-o: pode ser uma cor, um símbolo ou uma característica única do seu produto. Simplifique-o à sua forma mais básica.
  • Seja consistente nos pontos de contato: do cartão de visita à fachada da loja, mantenha elementos visuais coesos para fortalecer seu reconhecimento.
  • Crie rituais com significado emocional: pense em como transformar a interação com sua marca em um momento especial, como aquela embalagem característica ou o cumprimento personalizado.
  • Elimine atritos: analise cada etapa da jornada do cliente e simplifique o que puder. Às vezes, remover uma etapa do processo vale mais que qualquer campanha publicitária.

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O futuro das marcas que se integram à rotina

À medida que a tecnologia avança, as marcas estão encontrando maneiras cada vez mais sutis de se tornarem parte da nossa rotina. Assistentes de voz, wearables e casas inteligentes criam novas oportunidades de integração no dia a dia.

O desafio para as marcas, especialmente nas cidades em crescimento, será encontrar o equilíbrio entre a integração natural e o respeito à privacidade e escolha consciente dos consumidores.

As marcas que conseguirem esse equilíbrio – sendo úteis sem serem intrusivas, memoráveis sem serem invasivas – conquistarão não apenas a rotina, mas a confiança duradoura das pessoas.

Lais Lumes é designer especialista em branding essencialista e fundadora do Lais Lumes Brand Studio. Com uma década de experiência, desenvolveu a metodologia “Iconic with Less”, focada em criar marcas memoráveis através da simplicidade estratégica.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Tribuna de Jundiaí.