
Tenho visto muitas manifestações sobre o ano de 2020 como um marco negativo, um período difícil de digerir, um tempo arrastado pelas complicações dessa pandemia que nos deixa em constante alerta. Realmente, não é para menos: 2020 não foi fácil e todos sabemos os porquês – nos trouxe mortes dolorosas, perdas, desigualdades expostas, alterações conjunturais nos quadros de saúde pública, mental e socioeconômica.
Porém, mais que um balanço do ano, como se fechássemos os desgostos em um baú, acho que esse 2020 nos propõe desde o início um chamado para a vida, para o que queremos dela, o que não me parece dever acabar nesse dezembro mais estranho que outros. Se for para arrastarmos esse tempo, que seja, então, por meio dos aprendizados que ele nos trouxe, à revelia dos revezes todos que causou.
2020 foi, além de todo seu caos, um ano de novas organizações, otimizações, de criativo olhar e análise justamente sobre esse tempo que nos foi difícil, mas também raro e necessário para respirarmos com atenção, administrando ansiedades – próprias e sociais.
Foi um ano que nos forçou a olhar para dentro, para a própria casa (seja física ou figurada), para os nossos, para os elos que valem, para o que construímos como seres humanos, para o que deixamos ao redor, para o que pode ser essencial.
Também foi um ano em que a política, já bastante circulada na boca do povo, continuou acesa, sobretudo e ainda infelizmente, pela divisão binária que insistem em reproduzir no Brasil, mesmo quando tudo o que deveríamos depositar no combate a uma pandemia devesse ser a união, coragem e embasamento técnico e científico solidificados. Porém, num mundo que não é ideal, é preciso reconhecer que pessoas demonstraram alguma atenção maior pelo dia a dia político.
Tivemos ainda as eleições municipais e a oportunidade de escolhermos nossos representantes. E é esse olhar da escolha – pela vida que podemos ter, pela política que podemos construir – que justamente acredito que não pode acabar aqui, nesses últimos dias de dezembro.
O ano que passa não se apaga. Nada contra aos votos de renovação, mas que eles tenham responsabilidade com o que vimos e não gostamos em 2020. A reflexão que sugiro, portanto, nessa última coluna do ano, é justamente a de que não deixemos esse interesse um pouco mais coletivo de 2020 adormecer com a virada do dia 31. O novo fazemos todos os dias.
Se a crítica mais comum aos políticos é a de que só aparecem a cada 4 anos, que não sejamos esses eleitores também comuns e temporários, restritos à repercussão das tragédias que nos acometem. A responsabilidade, seja dos agentes políticos ou da população, é de acompanhar diariamente, contribuir e nos informar. O trabalho existe e deve ser sempre transparente, mas é preciso também procurar saber.
Que 2021 seja sim de renovação, sobretudo daquilo que não nos faz bem, mas que tenha memória, que se mantenha mais crítico, que faça crescer os movimentos de representatividades diversas, para continuarmos a construção de cidadãos engajados, atentos à vida e à sociedade que tanto dizemos que gostaríamos de ter.
Raquel Loboda Biondi, jornalista e atualmente assessora legislativa na Câmara de Jundiaí
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