
Como tudo enquanto se vive, acho que a maternidade seja difícil de ser definida, resumida ou explicada, porque ela se constrói dia a dia com as vivências que são inúmeras, privilegiadas ou mais restritas, misturada aos mistérios e belezas da vida. Ainda assim, mesmo que feita de histórias únicas e distintas, ela permeia uma conexão inevitável entre mães e mulheres que, hoje, digo com certeza: esse elo precisa existir.
Precisa existir para combater comportamentos e práticas nocivos, reproduzidos sem muito questionamento há tempos e, muitas vezes, por nós mesmas. Revestidos nos palpites, julgamentos e opiniões desnecessárias desde a gestação, os comentários me parecem diminuir um poder certamente incompreendido, normalizado e pouco reconhecido de fato, em políticas públicas de suporte e para além dos parabéns todo mês de maio. O poder de gerar uma vida é grandioso e formador do mundo em que vivemos.
Com ele, vem tanta coisa, somos capazes de tanto, mas também temos direito à dor, ao cansaço, ao repouso de um processo que não “é só” natural, mas muito trabalhoso.
É muito curioso, se não bastante simbólico sobre nossa sociedade, que quando gestante, a mulher seja tratada de forma quase “imaculada” (que bom, ao menos) – mesmo que ainda se comente sobre seu corpo, os quilos que ganha ou perde, o tamanho da barriga, que se queira decidir sobre ela e o que carrega – mas quando nasce a criança, ela passa rapidamente à margem sob opiniões que vão desde o leite produzido (ou não) até a forma como corta a unha do dedo mindinho do bebê.
Ou seja, independente do mínimo detalhe a ser comentado, a mulher – já tão exausta no alvo desse mundo sem paridade – vira a mãe que mal olham, mal acolhem, mal oferecem tempo e espaço. Ou ainda: mal valorizam pelo seu zelo de todos os dias, com afeto e devoção integrais.
A minha experiência, tenho certeza, é muito privilegiada, cercada de amor, de direitos garantidos. Mas ainda assim, temos momentos de solidão. Como, então, não pensar nas mães já sozinhas por razões que conhecemos bem. Portanto, o que defendo aqui é a reflexão de que podemos mesmo nos dar as mãos, nos ouvirmos mais, nos respeitarmos como mulheres, acima de tudo, incluindo as mães.
Claro que temos avanços, que o hoje é muito melhor que o ontem – o que viveram nossas mães e avós, mas a caminhada não termina. Porque para além de tudo que se vive na prática, fisicamente e emocionalmente, as mães ainda são a mira para toda e qualquer interpretação sobre seus filhos, o que poupa os pais tão igualmente necessários nessa criação.
Que a gente possa olhar com mais carinho, respeitar cada caso, não julgar o cansaço, ouvir com atenção e, principalmente, nunca se apropriar do amor de uma mãe pelo seu filho, da história que é só dela.
Que possamos oferecer empatia, mas jamais ferir a experiência que cada uma terá, com suas dores e delícias. O encanto que nossos filhos/as proporcionam é lindo, mas também é fruto do que vivemos e muitos tentam abafar porque “mãe é tudo igual”. Nossa individualidade vale muito, tanto até para que esses bebês sejam melhores pessoas no mundo e multipliquem o amor que dependendo das condições, podem ou não receber. Mil vivas a nós que sabemos o quanto amamos.
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Raquel Loboda Biondi, jornalista e assessora legislativa na Câmara de Jundiaí.