
Nesta quinta-feira (29), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) realizou uma live onde admitiu que não tem provas para afirmar as acusações de risco de fraude no sistema eleitoral com urnas eletrônicas ou que as últimas eleições realizadas no país tenham sido fraudadas. Bolsonaro fala sobre fraudes eleitorais há cerca de três anos.
O presidente convocou veículos de imprensa e usou emissora pública de televisão para transmissão em tempo real. De acordo com seu anúncio, na transmissão apresentaria “provas” das fraudes.
Com mais de duas horas de transmissão, Bolsonaro abordou diversos temas não relacionados às eleições. Além disso, ao invés de apresentar provas, o presidente apresentou uma série de notícias falsas e vídeos com conteúdos que já foram desmentidos – várias vezes – por órgãos oficiais.
“Os que me acusam de não apresentar provas, eu devolvo a acusação. Apresente provas de que ele não é fraudável”, declarou Bolsonaro durante a live.
“Não tem como se comprovar que as eleições não foram ou foram fraudadas”, disse, minutos depois. “Não temos provas, vou deixar bem claro, mas indícios que eleições para senadores e deputados podem ocorrer a mesma coisa. Por que não?”, apontou.
Participação de ‘Especialista’
Durante a transmissão, havia um homem ao lado de Bolsonaro, apresentado por ele apenas como “Eduardo, analista de inteligência”. A Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) foi questionada sobre o “especialista”. O órgão responder não ter a identificação completa do homem.
No final da live, o governo informou que o “especialista” é Eduardo Gomes da Silva, coronel do Exército e ex-assessor especial do ministro Luiz Eduardo Ramos na Casa Civil. De acordo com Bolsonaro, o coronel trabalha justamente na Secretaria de Comunicação. No entanto, no currículo de Eduardo, divulgado pelo Planalto, não informa nenhuma especialização na área de programação ou segurança da informação.
“A pessoa que viria fazer a demonstração aqui demonstrou muita preocupação pela sua exposição. É um civil. E resolveu então passar as informações para o Eduardo, de modo que ele explanasse aqui. De nada diminui o serviço prestado pelo Eduardo, porque a mesma coisa seria apresentada pelo outro cidadão. Se ele se garantir seguro no futuro, pode ter certeza que ele participará de momentos outros como esse”, declarou o Presidente da República.
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Mais fake news
Eduardo afirmou, no início da transmissão, que mostraria “fatos, acontecimentos”. No entanto, o coronel apresentou conteúdo que já foi desmentido várias vezes por órgãos e especialistas. “Esses vídeos, todos eles estão disponíveis na internet. E por que nós fizemos questão de buscar nessa fonte? Porque é o povo. Essas pessoas não foram pagas para fazer isso, elas demonstraram interesse em ter uma democracia melhor, mais avançada, mais justa e transparente”, disse Eduardo.
Um dos materiais mostrados por Eduardo incluiu, por exemplo, um vídeo antigo em que um programador dizia simular o código-fonte de uma urna eletrônica para, em seguida, mostrar supostas formas de fraudar o sistema.
“Em termos de dispositivo de hardware, a urna é um computador. Porém, não é um computador comum de mercado, mas sim projetado conforme exigências estabelecidas pelo TSE para garantir a segurança de seu hardware”, explicou o Tribunal Superior Eleitoral, em nota.
Críticas
Em vários momentos da transmissão, Bolsonaro fez novas críticas ao ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que é contrário à adoção do voto impresso. Bolsonaro disse, sem nenhuma prova, que Barroso quer “manter a suspeição das eleições” e levantou suspeitas de que Barroso teria atuado junto a parlamentares para tentar barrar o avanço da PEC do voto impresso na Câmara.
Em pronunciamento, o ministro do STF disse que “o discurso de que ‘se eu perder, houve fraude’ é de quem não aceita a democracia”.
Além disso, em outra crítica ao Judiciário e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Bolsonaro afirmou que não é possível “os caras que tiraram o outro da cadeia serem as mesmas pessoas a contarem os votos” das eleições.
O presidente também criticou a imprensa que, segundo ele, “envenena” a população. Bolsonaro também criticou as pesquisas sobre a eleições de 2022, que apontam Lula com altos percentuais de intenção de voto.