O presidente Jair Bolsonaro e sua comitiva iniciaram uma viagem a Moscou nesta segunda-feira (14), para encontro com Vladimir Putin e reuniões bilaterais que, segundo o Itamaraty, já estavam sendo planejadas desde meados do ano passado, antes da escalada recente das tensões nas fronteiras da Ucrânia.

Com o presidente russo engajado em ameaças de invasão à vizinha Ucrânia, diplomatas e especialistas de dentro e de fora do Brasil avaliam que a aproximação, agora, poderia enviar um sinal negativo ao mundo ocidental sobre o posicionamento brasileiro em relação ao conflito, principalmente com os Estados Unidos, segundo maior parceiro comercial do Brasil, e para potências europeias que formam a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), ambos engajados em revidar a ofensiva russa no território ucraniano.

Porém, para especialistas em comércio exterior consultados pelo CNN Brasil Business, apesar de não ser o melhor momento para a visita, é importante uma aproximação entre estes dois dos cinco membros dos BRICS, e há muitas oportunidades comerciais, hoje subutilizadas, que podem ser ampliadas entre o Brasil e a Rússia. “A Rússia é um mercado importante, tem 140 milhões de habitantes. O Brasil tem interesse em aumentar as exportações para lá, principalmente de alimentos, e há a possibilidade de que, dentro dos BRICS, tenha algum tipo de cooperação”, disse o ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral, sócio da BMJ Consultores Associados.

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Há duas décadas, a Rússia já foi a maior compradora de carnes, especialmente suína, do Brasil. O posto, porém, foi minguando conforme os russos trabalharam por sua autossuficiência e, no Brasil, os produtores começaram a se ocupar de outros destinos bem maiores em ascensão, caso da China.

Em 2021, o Brasil vendeu um total de US$ 1,7 bilhão em produtos para a Rússia, o equivalente a 0,6% das exportações totais, a menor participação em pelo menos duas décadas. Isso deixou o país com a nona maior população do mundo em 36º entre os destinos para onde o Brasil mais exporta.

O valor importado mais do que dobrou no ano passado e consolidou de vez uma relação bilateral que, depois de anos favoráveis, hoje é deficitária para o Brasil. “Mesmo que seja menos de 1% [a participação nas exportações], estamos falando de duas das maiores economias do mundo, e que pouco se conhecem”, disse o economista-chefe da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), Mario Cordeiro.