
A Mesa Diretora da Câmara dos Deputados decidiu nesta quinta-feira (17) cassar os mandatos de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), por excesso de faltas, e de Alexandre Ramagem (PL-RJ), em cumprimento a uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que condenou o parlamentar fluminense. A decisão foi assinada pelo presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), e por outros quatro integrantes do colegiado.
No caso de Eduardo Bolsonaro, a medida não implica, de forma imediata, em inelegibilidade. Isso só poderá ocorrer se houver condenação definitiva no STF. O agora ex-deputado é réu na Corte, acusado de tentar constranger autoridades judiciais em razão do julgamento do pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Regra constitucional motivou a cassação
A perda do mandato foi declarada com base em um dispositivo da Constituição Federal que impede deputados e senadores de faltarem a mais de um terço das sessões deliberativas realizadas ao longo do ano legislativo.
Eleito por São Paulo, Eduardo Bolsonaro vive nos Estados Unidos desde o início de 2025. Segundo ele, a mudança ocorreu para evitar o que classifica como perseguição política e jurídica no Brasil. Mesmo assim, tentou manter o exercício do mandato à distância e buscou alternativas para evitar o registro formal das ausências, sem sucesso.
Ao longo de 2025, a Câmara contabilizou 78 sessões deliberativas. De acordo com os registros oficiais, Eduardo Bolsonaro esteve ausente em 63 delas, o que corresponde a quase 81% do total.
Avaliação antecipada das ausências
A análise das faltas foi antecipada pela presidência da Câmara. Em regra, o regimento interno da Casa prevê que esse tipo de verificação seja feito apenas em março do ano seguinte. Ao justificar a abertura do processo interno, o presidente Hugo Motta afirmou que o parlamentar já havia ultrapassado o limite constitucional permitido.
Segundo Motta, a permanência de Eduardo Bolsonaro no exterior foi uma decisão pessoal e inviabilizou, na prática, o exercício do mandato, já que a atuação parlamentar exige presença no território nacional e participação nas sessões da Casa.
Sem presença, sem salário
Antes mesmo da cassação, Eduardo Bolsonaro já enfrentava uma série de sanções administrativas. Enquanto esteve fora do país, foi impedido de votar remotamente e não conseguiu avançar em uma tentativa de evitar o registro de faltas por meio de uma indicação ao cargo de líder da minoria.
Além disso, por determinação do STF, o salário de deputado foi bloqueado. O então parlamentar também foi incluído na Dívida Ativa da União por quase R$ 14 mil, referentes a débitos junto à Câmara dos Deputados.
A viagem aos Estados Unidos ocorreu em fevereiro, conforme comunicações oficiais enviadas à Casa. Em março, Eduardo decidiu estender a estadia e anunciou publicamente que permaneceria no país para evitar uma possível ordem de prisão atribuída ao ministro do STF Alexandre de Moraes.
Réu no Supremo Tribunal Federal
Durante a permanência no exterior, Eduardo Bolsonaro manteve contato com lideranças políticas americanas e passou a defender a aplicação de sanções do governo dos Estados Unidos contra o Brasil. Para o Ministério Público Federal, essas ações tiveram como objetivo pressionar autoridades brasileiras.
Na denúncia apresentada, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, sustentou que o ex-deputado atuou para influenciar decisões judiciais por meio das sanções econômicas impostas pelo presidente americano Donald Trump. Segundo o chefe do Ministério Público, a intenção seria impedir que o STF avançasse em julgamentos condenatórios relacionados à investigação da tentativa de golpe, processo no qual Jair Bolsonaro foi condenado a mais de 27 anos de prisão.
Gonet avaliou ainda que as ações atribuídas a Eduardo Bolsonaro buscavam colocar interesses familiares acima das normas do devido processo legal.
A denúncia foi aceita pela Primeira Turma do STF, tornando Eduardo Bolsonaro réu por tentar interferir em processos judiciais envolvendo o pai. Além dele, Paulo Figueiredo Filho também responderá pelo crime. O julgamento ainda não foi marcado. Em caso de condenação, Eduardo poderá se tornar inelegível e ficar impedido de disputar eleições.