Foto: Reprodução/TV Globo
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Waldyr Ferraz, amigo e conselheiro do presidente Jair Bolsonaro, afirmou em reportagem publicada pela revista “Veja” que houve rachadinha no gabinete do presidente quando ele foi deputado federal. Segundo Waldyr, a prática ocorreu também nos gabinetes dos filhos do presidente Flávio Bolsonaro, quando ele era deputado estadual, e Carlos Bolsonaro, vereador.

Ferraz foi assessor de Bolsonaro na campanha presidencial de 2018. Aposentado da Marinha, é um dos amigos mais próximos do presidente. Segundo Ferraz, quem comandava a rachadinha era a ex-mulher de Bolsonaro Ana Cristina Valle. Ele ainda afirma que Jair Bolsonaro não sabia da prática e que só teve conhecimento das rachadinhas em novembro de 2018, depois de ter sido eleito presidente. Os citados por Waldyr negam que tenha havido.

A rachadinha ocorre quando o gabinete de um parlamentar contrata alguém com a condição de que vai ficar com parte do salário da pessoa. Muitas vezes, se trata de um funcionário fantasma, que nem vai ao gabinete. A prática é ilegal. Ao longo dos três anos do mandato, Bolsonaro tem enfrentado o desgaste de denúncias de rachadinha na família.

À Veja, Ferraz detalhou como funcionava a rachadinha nos gabinetes da família. Ele disse que Ana Cristina contratava pessoas dispostas a devolver parte do dinheiro. Ela recolhia os documentos, abria contas bancárias em nome dos funcionários e ficava com parte dos salários. “Ela fez nos três gabinetes. Em Brasília (na Câmara dos Deputados), aqui no Flávio (na Assembleia Legislativa do Rio) e no Carlos. O Bolsonaro deixou tudo na mão dela para ela resolver. Ela fez a festa. É isso. Ela que fazia, mas quem é que assinava? Quem assinava era ele. Ele vai dizer que não sabe? É batom na cueca. Como é que você vai explicar? Ele está administrando. Não tem muito o que fazer”, relatou o amigo do presidente à revista.

“A jogada dela era a seguinte, ela chegava pra você e dizia: ‘Quer ganhar um dinheiro? Te dou R$ 1 mil por mês, quer? Me empresta seu documento aí’. Pegava a carteira do cara que estava entrando na Câmara, recebia R$ 8 mil, R$ 10 mil, e dava R$ 1 mil para o cara”, completou.

Ele ressaltou que Bolsonaro não sabia de nada e que, nesse episódio, foi “traído” pela ex-esposa. “Ele, quando soube, ficou desesperado, era uma fria. O cara foi traído. Ela começou tudo. Bolsonaro nunca esteve ligado em nada dessas coisas. O cara tinha visão do que estava acontecendo por trás no gabinete. O próprio deputado não sabe. Mesmo o deputado vagabundo não sabe, só vem a saber depois”, contou.

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Segundo a revista, Ferraz também disse que Ana Cristina chantageia Bolsonaro e chega a, algumas vezes, aparecer ao lado de apoiadores no cercadinho na porta do Palácio da Alvorada, onde quase todos os dias o presidente para falar com simpatizantes. “Ela é muito perigosa. É uma mulher que quer dinheiro a todo custo. Às vezes, ela vai ao cercadinho, frequenta o cercadinho. É uma forma de chantagem. A gente nem toca nesse assunto para não deixar o cara [Bolsonaro] de cabeça quente”, revelou Ferraz.

Na entrevista para a “Veja”, o conselheiro do presidente disse ainda que, depois que Ana Cristina rompeu com Bolsonaro, quem assumiu o esquema das rachadinhas foi Fabrício Queiroz, amigo do presidente. Ferraz disse que, também na época de Queiroz, Bolsonaro não sabia da rachadinha.

“Queiroz, que também é amigo do presidente há mais de trinta anos, substituiu Ana Cristina como responsável pela arrecadação dos salários dos servidores. Continuou o esquema sem que Bolsonaro soubesse”, afirmou Ferraz. Em agosto do ano passado, o Jornal Nacional mostrou que Fabrício Queiroz e a esposa, Márcia Aguiar, repassaram um total de R$ 89 mil à primeira-dama Michelle Bolsonaro entre 2011 e 2016.