Em discurso na ONU, Bolsonaro ataca esquerda, imprensa, França e indígena Raoni
Em discurso na ONU, Bolsonaro ataca esquerda, imprensa, França e indígena Raoni

Em seu primeiro discurso no plenário da Assembleia-Geral das Nações Unidas, o presidente Jair Bolsonaro atacou severamente os governos de esquerda no Brasil, a atitude da França diante dos incêndios na Amazônia e até mesmo o cacique caiapó Raoni Metuktire, uma das principais vozes contra as políticas ambientais e indigenistas do seu governo.

Alegando que trazia a “verdade” ao plenário, Bolsonaro criticou até mesmo a própria ONU, a quem acusou de “perverter a identidade biológica”, em referência à agenda da organização em favor da diversidade de gênero.

“Apresento aos senhores um novo Brasil, que esteve à beira do socialismo”, declarou logo no início de seu discurso de 31 minutos – 11 a mais do que o determinado pela ONU a cada chefe de Estado.

“Meu país esteve muito próximo do socialismo, o que nos colocou numa situação de corrupção generalizada, grave recessão econômica, altas taxas de criminalidade e de ataques ininterruptos aos valores familiares e religiosos que formam nossas tradições”, completou, em uma clara apresentação do viés ideológico de seu governo.

Durante o discurso, ele também elogiou a figura do ex-juiz Sergio Moro, por seu combate à corrupção, e citou que levou para a ONU como parte de sua delegação a indígena Yzany Kalapalo, com o intuito de sustentar os dizeres de que a Amazônia não está sendo destruída e que a política ambiental e indigenista de seu governo segue a vontade dos indígenas.

Sobre a França, ele não chegou a citar o país diretamente, mas referiu-se à nação presidida por Emmanuel Macron como “um país” que adotou uma postura colonialista, seguiu a “mídia sensacionalista” e ousou “sugerir a aplicação de sanções contra o Brasil” no episódio dos incêndios na Amazônia.

Dando continuidade, pediu respeito à soberania nacional e atribuiu a polêmica internacional em torno do desmatamento da Amazônia à “mídia sensacionalista”.

“É uma falácia dizer que a Amazônia é patrimônio da humanidade, e um equívoco, como atestam os cientistas, afirmar que nossa floresta é o pulmão do mundo”, afirmou. “Valendo-se dessas falácias, um ou outro país, em vez de ajudar, embarcou nas mentiras da mídia e se portou de forma desrespeitosa, com espírito colonialista.”

A partir disso, voltou a falar sobre as reservas indígenas: afirmou que não vai aumentar a área demarcada, mas que pretende fornecer a exploração econômica para os indígenas em suas reservas, que contém ouro, diamante, urânio, nióbio e outros minerais. Para ele, isso faria com que eles não fossem mais “latifundiários pobres em terras ricas”.

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O presidente alegou ainda que haver no país 225 povos indígenas e outras 70 tribos isoladas para sustentar, em seguida, que o cacique Raoni não fala em nome de todos eles. Desde os anos 1980, Raoni é a principal liderança que, especialmente no plano internacional, atua em favor da preservação ambiental e da proteção de áreas indígenas.

Em seu discurso, também citou Cuba e Venezuela, atacou a esquerda, acusou o Foro de São Paulo de ser uma “organização criminosa” e defendeu as ditaduras militares de direita que vigoraram na América Latina entre os anos 1960 e 1980.

Seu discurso não deixou de causar impressão na plateia. A chanceler Angela Merkel expressou na face sua contrariedade. Mas não houve, como se temia, protesto de delegação insatisfeita com a mensagem de Bolsonaro.

Com informações da Veja.