Entregador com mochila vermelha do iFood pedala pela rua enquanto outros motociclistas de delivery circulam ao redor em uma via urbana movimentada.
Governo cria grupo de trabalho para definir renda mínima e direitos aos entregadores por app (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

O governo federal instituiu um grupo de trabalho (GT), na última quinta-feira (4), para formular proposta de regulamentação trabalhista voltada aos entregadores por aplicativo. A iniciativa é coordenada pela Secretaria‑Geral da Presidência da República (SGPR), com participação do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e representantes dos entregadores de todas as regiões do país, além de centrais sindicais. O anúncio foi feito pelo ministro Guilherme Boulos.

O objetivo é apresentar um conjunto de propostas essenciais — entre elas, remuneração mínima, seguro previdenciário ou seguro contra acidentes e maior transparência sobre os algoritmos das plataformas de delivery.

“Hoje trabalham demais e ganham pouco”, sintetizou Boulos.

Principais demandas no centro do debate

  • Ganho mínimo garantido: o governo quer assegurar um valor mínimo para entregadores de apps, que hoje relatam remuneração insuficiente.
  • Proteção previdenciária / seguro por acidentes: a proposta inclui formas de garantir que, em caso de acidente, os trabalhadores não fiquem “à Deus dará”, sem qualquer amparo.
  • Transparência dos algoritmos: as plataformas serão instadas a explicar como funcionam os sistemas que definem preço, distribuição de entregas e uso de dados dos entregadores.

Quem participa e próximos passos

Estão convidados a compor o grupo, além dos ministérios e representantes dos entregadores e das centrais sindicais, órgãos como o Tribunal Superior do Trabalho (TST), o Ministério Público do Trabalho (MPT) e o Ministério da Saúde. Também farão parte representantes da comissão especial da Câmara dos Deputados que analisa a regulamentação dos trabalhadores por app.

De acordo com Boulos, este GT, que é voltado exclusivamente aos entregadores, terá duração inicial de 60 dias, com possibilidade de prorrogação. Há previsão de, a partir de janeiro de 2026, criar outro grupo voltado a motoristas de aplicativo.

Resistência das plataformas e desafios da regulamentação

Embora as empresas demonstrem abertura para dialogar sobre transparência algorítmica e previdência, muitas resistem à ideia de garantia de salário mínimo ou piso para entregadores.

Como ressaltou o ministro, “quando você vai defender direito dos trabalhadores … isso existe e gera uma resistência por parte de empresas”.

Para representantes da categoria, a expectativa é que o GT destrave um debate que se arrasta há anos.

Importância da pauta e os próximos desafios

Com estimativa de que motoristas e entregadores de apps somam cerca de 3 milhões de trabalhadores no país, a regulamentação representa uma tentativa de dar respaldo social e melhores condições a uma parcela significativa da força de trabalho brasileira.

Mas o impasse continua: a definição de um piso de remuneração e de um sistema de previdência compatível com a realidade dos trabalhadores por aplicativo deverá enfrentar negociações complexas com as empresas, que hoje detêm poder sobre a definição de regras e algoritmos.