
Condenado a 40 anos de prisão por operar o esquema do Mensalão do Partido dos Trabalhadores (PT), Marcos Valério de Souza revelou ao Ministério Público de São Paulo que Lula foi um dos mandantes da morte de Celso Daniel, prefeito petista de Santo André assassinado em 2002. O caso foi divulgado nesta sexta-feira (25) pela Veja e publicado pela Gazeta do Povo.
Segundo Valério, Ronan Maria Pinto, que participava de um esquema de propina na prefeitura de Santo André, foi quem disse a ele que o ex-presidente teria sido o mandante do crime.
De acordo com a reportagem, Ronan ameaçou envolver membros do PT na morte de Celso Daniel, e Valério havia sido designado para comprar o silêncio do empresário. Ele e Delúbio Soares, tesoureiro do PT à época, se encontraram em 2003 com Ronan em um hotel de São Paulo. Nessa reunião, disse que não ia “pagar o pato” sozinho e que apontaria Lula como “mandante da morte” de Celso Daniel. Para não fazer isso, exigiu dinheiro. O pagamento, de R$ 6 milhões, teria sido feito. À época, Lula já era presidente.
O promotor do MP-SP Roberto Wider, interrogou Marcos Valério, sobre Lula ter comentado o episódio com ele. O publicitário disse que sim, e relatou como foi o diálogo: “Eu virei para o presidente e falei assim: ‘Resolvi, presidente’. Ele falou assim: ‘Ótimo, graças a Deus’”.
Envolvidos
Segundo o depoimento de Marcos Valério, não apenas Lula e Delúbio Soares estariam envolvidos, mas que outros integrantes do partido tinham algum tipo de participação na negociação para calar Ronan.
Gilberto Carvalho – chefe de gabinete do então presidente Lula, o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira, o ex-ministro José Dirceu, o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, o ex-deputado Professor Luizinho e Paulo Okamotto, ex-presidente do Sebrae no governo do PT e amigo pessoal de Lula, também foram mencionados.
No depoimento, Marcos Valério relatou que Okamotto o ameaçou. “Marcos, uma turma do partido acha que nós devíamos fazer com você o que foi feito com o prefeito Celso Daniel. Mas eu não, eu acho que nós devemos manter esse diálogo com você. Então, tenha juízo”, disse à Justiça, segundo a VEJA.
Motivações
Marcos Valério caiu em contradição ao contar ao MP-SP sobre as possíveis causas do assassinato.
Primeiro contou que Professor Luizinho, que havia sido vereador em Santo André e que conhecia Celso Daniel, explicou que o “problema ocorreu porque a corrupção na prefeitura tinha como objetivo financiar gastos do PT – especialmente os da campanha presidencial de Lula em 2002”. Mas o esquema teria virado uma “ação de gângster”.
Essa “ação de gângster” teria sido o uso de dinheiro desviado para enriquecimento de pessoas envolvidas no esquema de corrupção.
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Em outro momento, Valério diz que a informação que recebeu de Professor Luizinho era de que Celso Daniel teria sido morto porque se opôs a entregar a condução do esquema a esse grupo, que seria contrário aos interesses do PT (obter dinheiro para si).
R$ 6 milhões
O Banco Schahin, que tinha relação com petista, especialmente sobre o fundo de pensão, “emprestou” R$ 12 milhões ao empresário José Carlos Bumlai, amigo de Lula. Desses recursos, segundo a investigação, R$ 6 milhões foram usados para comprar o silêncio de Ronan. A outra metade foi entregue a Jacó Bittar, amigo de Lula e pai de Fernando Bittar, dono oficial do sítio de Atibaia pelo qual o ex-presidente foi condenado. À Lava Jato, o banco admitiu ter feito a simulação de empréstimo a pedido do PT.
Segundo a reportagem da revista Veja, Marcos Valério contou a história inteira em 2018 ao então juiz Sergio Moro.