Carlos Bolsonaro em sessão na Câmara
Carlos Bolsonaro é o filho 02 do presidente e vereador do Rio de Janeiro. (Foto: Renan Olaz/CMRJ)

O filho do presidente Jair Bolsonaro e vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro, foi identificado em um inquérito sigiloso conduzido pelo Supremo Tribunal Federal, o STF, como um dos articuladores de um esquema criminoso de fake news.

Segundo a Folha de S. Paulo, que teve acesso a essa informação, a Polícia Federal acredita que não há dúvidas de que Bolsonaro pediu a saída do ex-diretor Maurício Valeixo porque soube que a corporação chegou ao seu filho.

Para o presidente, substituir o diretor por alguém de sua confiança poderia abrir caminho para acessar o caso, e inclusive, trocar os delegados responsáveis pela investigação.

Mas, o STF se adiantou.

Na sexta-feira (24), logo após Moro anunciar sua saída do Ministério da Justiça, o ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito, determinou que nenhum delegado da Polícia Federal responsável pelo caso seja substituído.

Inquérito

Aberto por Dias Toffoli, presidente do STF, em março de 2019, o inquérito apura o uso de notícias falsas para ameaçar e caluniar ministros do tribunal.

O filho 02 de Bolsonaro, Carlos, é suspeito de ser um dos líderes de grupo que monta notícias falsas para intimidar e ameaçar autoridades públicas na internet. Segundo a Folha de S. Paulo, o deputado federal Eduardo Bolsonaro também está na mira da investigação.

Para indiciar os envolvidos, a PF agora trabalha na obtenção de um conjunto de provas levantadas através de depoimentos e outros indícios.

Procurado pela Folha por escrito e por telefone, o chefe de gabinete de Carlos não respondeu aos contatos.

Mas o vereador se manifestou.

Em uma publicação nas redes sociais, Carlos escreve:

“Esquema criminoso de… NOTÍCIAS FALSAS O nome em si já é uma piada completa! Corrupção, tráfico, lavagem, licitações? Não! E notaram que nunca falam que notícias seriam essas? É muito mais fácil apontar manipulação feita pela grande mídia. Matéria lixo!”. Ele acrescentou: “Não é necessário esquema de notícia pra falar o que penso sobre drácula, amante, botafogo, nervosinho, aproveitadores, sabotadores, ou sobre quem quer que seja! Há quem faça isso, e são aqueles que mais acusam. Sabemos quem é amiguinho dos jornalistas que direcionam ataques!”.

Crise no Planalto

Depois da saída de Valeixo e Moro, para o cargo de diretor-geral da PF ao menos, Bolsonaro já decidiu um nome: Alexandre Ramagem, hoje diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

Segundo a Folha, Ramagem é amigo de Carlos Bolsonaro. Eles se aproximaram durante a campanha eleitoral de 2018. Ramagem foi líder da segurança de Bolsonaro quando o presidente sofreu uma facada em Juiz de Fora (MG) e depois, foi convidado para assumir o cargo de assessor especial no Planalto nos primeiros meses de governo.

De acordo com a Folha, Carlos teria sido o responsável por convencer o pai a indicar Ramagem. Ele também é o mentor do chamado “gabinete do ódio”, instalado no Planalto para detratar adversários políticos.

Atendendo a pressão do filho, Bolsonaro exonerou Valeixo. Para Moro, para tentar interferir politicamente na polícia. O ministro não cedeu e pediu demissão publicamente na sexta-feira (24).

Na troca de mensagens vazada pelo ex-ministro, Bolsonaro envia um link do site Antagonista que menciona “PF na cola de 10 a 12 deputados bolsonaristas”. Logo depois, ele escreve: “mais um motivo para a troca.

Segundo a Folha, o presidente pedia informações sobre os trabalhos da polícia, em reuniões e por telefone. Mas, de acordo apuração do jornal, Bolsonaro nunca recebeu dados sigilosos.

Caminhos que se cruzam

Na Polícia Federal, um outro inquérito envolvendo Bolsonaro foi aberto pelo STF.

A pedido do procurador-geral, Augusto Aras, os protestos pró-golpe militar realizados no domingo (19), que contaram com a presença do presidente, serão investigados. O caso ficou sob a responsabilidade do mesmo grupo de delegados que investiga o inquérito das fake news.

O objetivo do procurador-geral é apurar se houve violação da Lei de Segurança Nacional por “atos contra o regime da democracia brasileira por vários cidadãos, inclusive deputados federais, o que justifica a competência do STF”.

Até agora, o inquérito, segundo a Folha, envolveria pelo menos dois deputados apoiadores de Bolsonaro.

Bolsonaro não será investigado, segundo publicou a Folha de S. Paulo, depois de apurar com pessoas ligadas ao procurador-geral. Mas, se indícios mostrarem participação do Executivo, o presidente poderá se tornar alvo do inquérito.

Para o Supremo, os dois inquéritos, das fake news e protestos, podem estar ligados – especialmente pelo envolvimento de empresários, que podem estar financiando ambos os esquemas.

Coincidentemente, Bolsonaro apertou o cerco a Valeixo após a abertura dessa nova investigação.

Com informações da Folha de S. Paulo.