
Um estudo realizado pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (USP) analisou as mudanças no hábitos alimentares do brasileiro na pandemia. A pesquisa está sendo realizada com cerca de 80 mil participantes e começou em janeiro de 2020. Nos primeiros resultados, mostrou-se um aumento geral no consumo frequente de frutas, hortaliças e feijão, de 40,2% para 44,6%.
Além disso, as regiões Norte e Nordeste, e também pessoas de escolaridade baixa, aumentaram o consumo de alimentos ultraprocessados e industrializados. Esse tipo de alimentação contém altos níveis de açúcares, corantes, aromatizantes e conservantes.
Desigualdade social e problemas alimentares
Os pesquisadores do NutriNet Brasil analisaram que os resultados da pesquisa sugerem que a resposta do comportamento alimentar tem relação à desigualdade social.
Assim, para realizar o estudo, os pesquisadores aplicaram o mesmo questionário antes da pandemia (entre 26 de janeiro e 15 de fevereiro) e depois da pandemia (entre 10 e 19 de maio). No geral, a amostra teve a maior participação de adultos de 18 a 39 anos (51,1%), mulheres (78%) residentes da região Sudeste (61%) e escolaridade maior que 12 anos de estudo (85,1%).
De acordo com o coordenador do NutriNet Brasil, Carlos Monteiro, o aumento de consumo dos alimentos processados se devem ao aumento da publicidade neste período. Porém, o consumo deste tipo de alimento facilita os riscos de doenças crônicas, como aumento da pressão arterial e diabetes, que deixam as pessoas mais expostas à letalidade do coronavírus. Ao mesmo tempo, alimentos minimamente processados ou naturais fortalecem os sistemas de defesa do corpo.
“A mudança positiva no comportamento alimentar poderia ser explicada por alguns fatores. As novas configurações causadas pela pandemia na rotina das pessoas podem ter as estimulado a cozinharem mais e a consumirem mais refeições dentro de casa. Além disso, uma eventual preocupação em melhorar a alimentação e, consequentemente, as defesas imunológicas do organismo poderiam ser consideradas”, disse o professor.
A professora Renata Bertazzi, do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP informou que o estudo tem a duração de 10 anos e deve analisar 200 mil voluntários. Para ser voluntário, basta se inscrever no site do NutriNet Brasil e preencher o formulário.