
Recentemente, a influenciadora fitness Gracyane Barbosa causou um grande alvoroço nas redes sociais ao apresentar o “seu filho” reborn, um boneco nomeado Benício. Essa boneca, que simula um bebê humano, gerou discussões acaloradas entre seus seguidores, dividindo opiniões. De um lado, há quem apoie a adoção simbólica do boneco, e de outro, aqueles que demonstram apatia ou até mesmo críticas em relação a esse vínculo afetivo. Mas a pergunta que surge é: até que ponto essa relação com bonecas reborn pode ser saudável?
Para entender melhor os impactos dessa tendência, o Tribuna de Jundiaí conversou com a neuropsicóloga Thaise Goes Carneiro, que atua na região de Jundiaí (SP), sobre os possíveis benefícios e consequências dessa prática no campo da saúde mental.
Os fatores emocionais por trás do vínculo com as bonecas reborn
Segundo Carneiro, alguns fatores emocionais podem estar presentes no vínculo com as bonecas reborn, incluindo o luto não resolvido. “A perda de filhos, abortos espontâneos ou a infertilidade são algumas das situações que podem levar uma pessoa a criar esse vínculo simbólico”, explica.
Ela pontua que, sob a ótica teórica de Freud, esse apego poderia ser interpretado como uma expressão de desejos inconscientes, com base na fixação em fases do desenvolvimento psicossexual, como as fases oral ou fálica, ou até como uma forma de elaborar o luto. Já Maslow, teórico da Psicologia Humanista, poderia ver esse vínculo como uma tentativa de suprir necessidades emocionais básicas, como amor e pertencimento, que são essenciais para alcançar a autorrealização.
Quando o vínculo com a boneca reborn se torna terapêutico?
Em algumas situações, o vínculo com as bonecas reborn pode ser útil em contextos terapêuticos. Thaise Carneiro observa que pessoas que enfrentam solidão podem buscar nas bonecas uma forma de conexão emocional, além de pacientes com transtornos mentais ou neurodivergências.
Indivíduos no espectro autista, por exemplo, podem desenvolver um hiperfoco nas bonecas reborn, utilizando-as como reforçadores de comportamentos positivos. Da mesma forma, pacientes com transtornos de ansiedade podem encontrar conforto na rotina de cuidados com essas bonecas, associando a experiência a sensações de segurança.
A profissional também destaca a importância do uso terapêutico dessas bonecas, como no caso de idosos com Alzheimer ou demência. “Elas podem estimular o cuidado e a memória afetiva, além de reduzir a agitação”, afirma. Em casos de luto perinatal, as bonecas reborn podem proporcionar um alívio simbólico para a perda de um bebê, ajudando os pacientes a lidarem com o luto. “Em Terapia Ocupacional, por exemplo, elas podem estimular habilidades motoras e o senso de responsabilidade”, explica.

Os riscos: até onde pode ir o uso das bonecas reborn?
Embora as bonecas reborn possam ser benéficas em alguns contextos terapêuticos, Thaise Carneiro alerta para os riscos que o uso inadequado pode acarretar. “Os principais riscos incluem o agravamento do isolamento social, a fuga da realidade ou o reforço de delírios, e a dificuldade de estabelecer vínculos humanos autênticos”, adverte. Além disso, ela ressalta que a dependência emocional dessas bonecas pode se tornar um problema significativo, caso o vínculo substitua relações humanas saudáveis.
A psicóloga ainda alerta que o uso terapêutico dessas bonecas deve ser monitorado de perto para garantir que não se tornem substitutas de interações sociais reais e saudáveis.
Em contextos terapêuticos, o profissional deve avaliar a motivação por trás do interesse pela boneca, além de considerar a estabilidade emocional do paciente. “O profissional precisa observar o histórico de isolamento social, psicose ou quaisquer outros fatores que possam indicar um uso excessivo ou problemático”, explica.
A sociedade e as reações ao vínculo com bonecas reborn
A sociedade, por sua vez, tende a reagir de formas variadas ao vínculo com bonecas reborn. Enquanto algumas pessoas demonstram curiosidade ou até empatia, outras podem reagir com julgamento, estigma ou ridicularização.
Thaise observa que, embora essas reações possam afetar a autoestima dos indivíduos, levando-os à vergonha ou ao retraimento social, é importante que o uso da boneca seja sempre visto como simbólico e não como substituto de relações humanas.
Estabelecendo limites: o equilíbrio entre o afetivo e o terapêutico
Por fim, a neuropsicóloga destaca a importância de estabelecer limites no uso das bonecas reborn. “É essencial que o indivíduo tenha consciência do tipo de vínculo que está estabelecendo. Se for terapêutico, afetivo, artístico ou colecionável, deve-se saber diferenciar cada uma dessas dimensões”, orienta.
Ela ainda enfatiza a necessidade de manter uma vida social ativa e funcional, além de buscar apoio terapêutico para explorar as emoções envolvidas. “Manter a consciência do uso e estabelecer limites é fundamental para evitar a dependência emocional”.

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