
Um senhor de 68 anos passou por um procedimento minimamente invasivo para se livrar de um câncer no pulmão em pouco mais de um minuto cronometrado, no último final de semana em São Paulo. De uma forma inédita no país, o procedimento no pulmão foi feito com anestesia local.
Segundo a coluna Viva Bem, do UOL, o paciente já tinha enfrentado bravamente um tumor de intestino e os exames mostravam que o abdômen estava livre do câncer. Há um tempo, ele também já tinha quase sido levado por um infarto e, no entanto, sobreviveu a esse susto. Ou seja, as coisas iam relativamente bem até que encontraram um nódulo estranho em seu pulmão. Pois é, o câncer, varrido de outros cantos do corpo, só não tinha tomado um chá de sumiço bem ali. E foi então que tudo pareceu ficar complicado como nunca.
Um tumor pequeno como aquele, tinha apenas 0,8 centímetros de diâmetro, poderia muito bem ser retirado com o bisturi. O problema era o coração que, depois de infartar, nunca mais teve a força de antes para bombear o sangue. E a insuficiência cardíaca levou a equipe médica a fazer o alerta: se aquele homem recebesse uma anestesia geral, o risco seria tremendamente alto.
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Restava a alternativa da quimioterapia: “A questão é que, nesse caso, ela não seria curativa. Apenas controlaria o tumor por um tempo”, conta o radiologista intervencionista Luiz Tenório Siqueira do Hospital Vila Nova Star, na capital paulista.
Não é nova a ideia de matar um câncer de frio ou de calor, por assim dizer. A ablação tumoral térmica já é realizada há uns 20 anos no país, e quando os médicos congelam as células malignas até arrasá-las, eles falam em crioblação. Já quando optam pelo calor, o método mais conhecido ainda é aquele por radiofrequência.
Na radiofrequência, os especialistas colocam duas placas de eletrodos nas pernas do paciente, emitindo uma corrente elétrica. “A dificuldade é que essa corrente produz a sensação de choque no corpo e a gente precisa esperar cerca de 12 minutos até ela aquecer as células malignas a ponto de serem destruídas”, explica o doutor Tenório. “Ora, ninguém aguentaria 12 minutos levando choque só com anestesia local.”
“Submeter-se a uma ablação assim não é para qualquer um”, reconhece o doutor Tenório. De fato, outro paciente poderia ter um perfil psicológico mais aflito, mas aquele senhor estava confortável com a ideia.
Além de localizar o alvo com facilidade, o intervencionista tem controle milimétrico sobre a área que está destruindo. Conforme o comprimento das micro-ondas e a duração da emissão, ele é capaz de estimar o tamanho da área que está sendo queimada ao redor da ponta da agulha. Para aquele tumor específico, o médico sabia que um único minuto já seria o suficiente. Guiado pelas imagens, quando a agulha chegou no ponto exato onde Luiz Tenório queria, foi acionado o gerador. “Ele até poderia ter recebido alta no mesmo dia”, afirma Luiz Tenório. “Nós o deixamos um pouco mais, já que tinha o problema cardiológico.”