
A advogada jundiaiense, Ana Letícia Pessanha Prado Bortoloni, viajou a passeio para Peru no último dia 12 e, desde então, permanece na província de Cusco após o fechamento de fronteira – uma das formas de conter a transmissão do coronavírus (COVID-19).
Ana conta que soube do decreto na segunda-feira (16). “Foi um desespero total por aqui”, relata a jovem, que está hospedada em um hostel com mais oito brasileiros.
Ela relata ter buscado ajuda na embaixada brasileira, mas encontrou as portas fechadas, assim como outros brasileiros que estão na mesma situação.
Até o momento, segundo Ana, o presidente peruano informou que os estrangeiros estão liberados para voltar ao país de origem, mas pela responsabilidade de cada governo.
“Os EUA, o Canadá já estão repatriando seus cidadãos desde o primeiro dia da liberação do presidente do Peru. A Argentina está enviando 10 aviões para buscar seus cidadãos. Hoje, Israel também levará os seus de volta. Todavia, com os brasileiros é diferente”, afirma.

Ana lamenta o descaso da embaixada brasileira com seus cidadãos: “Não há uma mensagem oficial, não há um posicionamento ou qualquer auxílio por parte do nosso país”.
“O sentimento é de total desamparo. Enquanto os outros países buscam seus cidadãos o Brasil vira as costas para os brasileiros”.
A advogada revela que já enviou e-mails, fez ligações, foi na porta da embaixada, procurou o consulado, mas a resposta sempre é a mesma: “Que estão empreendendo esforços para resolver a situação”.
Toque de recolher e isolamento
Ana conta que em Cusco foi proibido andar pelas ruas, sob pena de multa para os moradores e, em caso de estrangeiros, multa também para a hospedagem.
“Sai para tentar comprar alimentos e produtos de higiene, fui parada três vezes por policiais, que energicamente diziam para retomar ao hostel senão poderia até mesmo ser presa”, diz.
Com o isolamento, Ana conta que muitos brasileiros e estrangeiros estão sem hospedagem, alimentação e desprovido de quaisquer condições de suprir as necessidades básicas.
“Cusco é muito frio à noite, pessoas dormiram na porta de aeroportos, pois fecharam até mesmo o local”, lembra a advogada, que faz parte de grupos de WhatsApp com pessoas que buscam voltar para casa.

Ela conseguiu permanecer no hostel, mas não sabe até quando será possível. “A situação é agoniante, pois não temos qualquer previsão de nada”, ressalta.
Voos cancelados
Com o fechamento da fronteira, as companhias aéreas cancelaram todos os voos e não tem previsão de retorno. “Não estamos conseguindo contato efetivo, seja do governo brasileiro, seja das companhias aéreas”.
Ana veio pela companhia GOL, que informou que os voos estão sendo cancelados a partir do dia 23 de março até junho.
“Meu voo de volta é para o dia 24 de março. Não consigo informações se será ou para quando será remarcado”.
A advogada ainda relata preocupação devido ao seu trabalho no Brasil. “Preciso voltar para o meu trabalho, dependo disso para viver, os prazos de processos digitais não foram suspensos, havendo o risco de potenciais prejuízos”, explica.
Com a insegura e momentos de tensão vividos, Ana conta que familiares e amigos trazem esperança. “Sem as mensagens deles, sem o suporte emocional afetivo deles não sei o que seria”.
Agora, Ana aguarda o repatriamento igual aos demais países estão fazendo com seus cidadãos. “Não adianta apenas pensar na economia do país se seus cidadãos estão desamparados em situações emergenciais”, finaliza.