Reinaldo morreu de Covid19 aos 49 anos, e deixou seu cachorro e sua irmã
Foto: Arquivo Pessoal

Após perder Reinaldo Romão, de 49 anos, para Covid19, os amigos de infância decidiram ajudar a família para encontrar uma nova casa para Xangô, o rottweiler de Reinaldo, de pouco menos de dois anos. Luiz Fernando Roman Ayres, um dos amigos do grupo, conta que Reinaldo era querido por todos e tinha um amor especial por Xangô.

Reinaldo morava e cuidava da irmão, que ficou debilitada após um acidente com outro cachorro da família. Agora, com a perda do tutor, Xangô não tem com quem ficar e então Luiz e o resto do grupo decidiram se reunir para assumir a responsabilidade de encontrar uma nova família para o rottweiler e também cuidar da irmã de Reinaldo.

“O Reinaldo amava aquele cachorro. Na verdade, a vida dele sempre foi para ter cachorro e tinha muito carinho pelo Xangô. E isso dá para ver, porque ele é um cachorro dócil. Não tem essa coisa de ser agressivo, mas é um rottweiler e é difícil achar um lar. Por outro lado, a convivência [entre o cachorro e a irmã] é sofrida para ela, porque ele brinca muito, ele pula e ela se machuca. Ele quer brincar, pular nela, mas ela não tem forças, acaba se machucando, caindo.”

De acordo com o grupo, o objetivo não é simplesmente “dar” Xangô embora, e sim encontrar um lar em que o cão receba o mesmo carinho que recebia de Reinaldo. “Muita gente queria colocar o cachorro em um sítio. E aí, não. A ideia é que ele faça parte do dia a dia da pessoa”, conta Luiz.

Xangô era muito querido pelo seu dono (Foto: Arquivo Pessoal)

Transição

Após um seleção, os amigos encontraram um veterinário na Zona Leste de São Paulo, que deseja adotar Xangô. Dessa forma, começaram com o plano de transição do cachorro. “Não é só pegar e tirar de casa. Ele é um ser e não um objeto. Por isso, tivemos a ideia de pegar um adestrador e fazer esse processo de transição. Assim, o Xangô pega intimidade com essa nova pessoa. Queremos um processo gradual até efetuar essa adoção.”

Depois da adoção efetivada de Xangô, os amigos contam que irão se organizar para ajudar de forma mais efetiva a irmã de Reinaldo.

“A gente se dividiu para levar as refeições diárias para ela, mas a gente quer fazer mais. Nós nos unimos para dar suporte a ela. Levar as refeições, mas também bater um papo, fazer companhia. Pensamos em ter uma cuidadora para ajudá-la. Ela não é uma pessoa totalmente independente. Ela tem os movimentos do corpo, mas tem lapsos de memória.”

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Vida difícil

Luiz conta que as vidas de Reinaldo e da irmã tiveram diversos obstáculos. De acordo com ele, os irmãos perderam a mãe quando Reinaldo ainda era criança. A irmã tentou “ocupar” este espaço materno a partir daí. Em seguida, o pai da família morreu, vítima de um câncer, e depois um outro irmão morreu. Junto a tudo isso, a irmã de Reinaldo sofreu um acidente, e ele passou a cuidar dela.

O amigo também diz que, após a chegada da pandemia, Reinaldo dizia que não poderia contrair a doença. “Ele sabia dos riscos. Ele falava que não podia pegar de jeito nenhum.”

Ainda assim, Reinaldo Romão acabou se contaminando e ficou duas semanas acometido pela doença. No dia 26 de março, não resistiu e faleceu.

Reinaldo e Luiz eram amigos desde os oito anos de idade, quando os avós de ambos construíram casas na mesma rua. Assim, os dois cresceram juntos.

Amigos de infância se unem para ajudar irmã e cachorro de Reinaldo após sua morte (Foto: Arquivo Pessoal)

Abandono na pandemia

Diferente do início da pandemia, quando o número de adoções aumentou, protetores de animais vêm percebendo um aumento no número de abandono de cães e gatos. Conforme levantado pela Ampara Animal, entre julho de 2020 e fevereiro de 2021, foi registrado um aumento de 70% no número de animais abandonados. A pesquisa considera dados de cerca de 100 ONGs afiliadas à Ampara.

“O abandono sempre existiu, mas a gente crê que essa segunda onda da pandemia influenciou. As pessoas perderam seus empregos, mudaram suas vidas. Acreditamos que é reflexo do impacto social, dessa crise econômica. As pessoas veem como uma despesa e isso acaba sobrando para parte mais fraca. São muitos animais de raça definida, animais idosos, doentes, animais que precisam de tratamento, medicamento, gasto maior [sendo abandonados]”, explicou a médica veterinária Rosângela Ribeiro Gebara, ao G1.

A protetora de animais destaca pontos fundamentais para se considerar ao decidir adotar um animal:

  • Esse animal vai ter uma vida de, em média, 15 anos;
  • É preciso ter condições para dar alimentação, vacinas e levá-lo a consultas veterinárias;
  • O tutor precisa reservar tempo para dar carinho e amor;
  • Todos da casa precisam concordar com a adoção;
  • Precisa ser uma adoção para o resto da vida desse animal;
  • Se vai viajar ou mudar de casa, a pessoa tem que incluir o animal em seus planos.