
Sem ainda saber muito sobre o potencial de transmissão e letalidade da nova variante do covid-19 e, ainda, se as vacinas já disponíveis perdem alguma eficácia contra a variante, os países começam a reforçar medidas de restrições para conter o impacto da ômicron, que já está presente em todos os continentes. Especialistas alertam que, apesar de não poder relaxar, o Brasil conta com pontos a favor que podem ajudar no combate à nova cepa.
Para o médico infectologista Wercilei Júnior, o avanço da vacinação é um dos trunfos do país diante da chegada dessa nova variante, já que o Brasil alcançou, na última semana, a marca de 90% do público-alvo vacinado pelo menos com a primeira dose da vacina. No entanto, ele relembra que já foi mostrado em estudos que a eficácia dos imunizantes tem uma diminuição gradativa após seis meses da conclusão do esquema vacinal. “Por isso, expandir a aplicação da terceira dose entra num momento muito importante, pois já estamos aumentando a qualidade das defesas das pessoas, enquanto que muitos países da Europa e da África ainda nem conseguiram chegar a uma vacinação de acima de 50% da população”, destaca.
O Ministério da Saúde ampliou a aplicação da dose de reforço para toda população adulta brasileira desde novembro. A medida foi elogiada por especialistas, que acreditam que a dose de reforço ganha ainda mais importância diante da ômicron. “Quando a gente pensa em uma nova variante mais transmissível, com 32 mutações na proteína spyke, de alguma forma essas mutações podem levar a um maior escape de resposta imune entre os vacinados e quem teve a infecção prévia. Então, nesse sentido, é muito importante que, primeiro, a população tenha o esquema vacinal completo e, em segundo, tome a dose de reforço”, pondera o infectologista da Fiocruz Julio Croda, que afirma que as vacinas devem preservar a proteção para hospitalizações e óbitos.
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, reforçou a importância da dose de reforço e pediu para as pessoas irem até o posto para tomar a dose adicional. “Mais de 14 milhões de brasileiros já tomaram a dose de reforço da vacina e, com isso, nós vamos nos proteger contra essa variante ômicron e contra outras variantes que possam surgir desse vírus”, disse.
O epidemiologista Eliseu Alves concorda que a postura da população brasileira frente à vacinação contra a covid-19 também é um fator que favorece o país em relação à Ômicron. “A grande vantagem do Brasil de hoje é que não tem havido recusas a vacinação em número significativo, não temos tido falta de vacinas e boa parte das autoridades do país está tendo conduta cautelosa em relação à abertura”, disse.
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Na última semana, estados e municípios voltaram atrás nas flexibilizações feitas neste final de ano. As festividades de ano novo e, até mesmo, do carnaval, já foram canceladas perante o medo do impacto de uma nova onda da doença. Para especialistas, essa cautela é necessária. “Apesar de todos esses aspectos positivos, não podemos ficar tranquilos, é necessária a manutenção de todas medidas de prevenção da covid-19 em relação à nova variante, que ainda sabemos pouco a respeito”, completou Alves.