À esquerda, equipe faz pronação de paciente grave; à direita, fisioterapeuta mede capacidade respiratória
Equipe faz pronação de paciente entubado e checa condição respiratória. (Foto: HSV)

“O ambiente está mais tenso, concentrado”.

É assim que Daniel Gimenez Rocha, coordenador de Fisioterapia do Hospital São Vicente de Paulo, de Jundiaí, define os dias de trabalho na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), tratando os pacientes com suspeita ou diagnóstico de coronavírus.

“Quem trabalha na UTI está acostumado com a vida corrida, mas agora, além dos pacientes por Covid-19 serem mais numerosos, os casos são muito mais graves”, explica.

“Por conta da utilização de muitos equipamentos de proteção para evitar o contágio, a equipe também se sente mais estressada”, detalha Daniel, que chefia uma equipe de 25 profissionais.

O papel do fisioterapeuta na UTI é indispensável e o trabalho começa já na triagem. Fica a cargo deste profissional fazer a avaliação da condição respiratória.

Já na UTI, ele é quem regula o ventilador mecânico com base em cálculos específicos que sugerem um tamanho aproximado do pulmão do paciente. Também é responsável por remover secreção, fazer manobras no tórax, cuidar da parte motora e respiratória e, também, avaliar as condições para tirar o doente da entubação.

Até quinta-feira (7), 28 pacientes demandavam todos esses cuidados em Jundiaí. Pelo menos 17 da rede pública, e 11, da rede privada, respiram por ventilação mecânica nos hospitais da cidade.

No Brasil, o número de profissionais especializados neste tipo de abordagem é limitado.

Apenas 25 mil dos 280 mil fisioterapeutas têm conhecimento técnico específico em terapia pulmonar, o equivalente a 9%. Para suprir o déficit, o Conselho Regional de São Paulo, por exemplo, criou aulas virtuais e cartilhas para orientar toda a categoria, especialistas ou não, sobre os protocolos de fisioterapia respiratória.

Essencial

Além de prevenir sequelas, o fisioterapeuta traz mais conforto respiratório ao paciente durante seu tratamento na UTI.

Dentre tantas manobras adotadas, a pronação é muito utilizada, especialmente no Hospital São Vicente. Nela, o paciente entubado é colocado de bruços, para que haja maior área pulmonar para ventilação.

“O pulmão é como uma esponja cheia de água, que sofre com o efeito gravitacional”, explica o fisioterapeuta.

“Todo o sangue e água que estão no pulmão ficam na base. Virando o paciente de bruços há mais espaço livre de líquido, que vai ser usado para melhorar ventilação e troca de oxigênio. Apesar de ser um procedimento simples, os pacientes que receberam este tipo de manobra mostram resultado”. (veja vídeo)

Na UTI, os pacientes podem ficar de bruços por até 16 horas.

Na enfermaria, o mesmo protocolo tem sido adotado para evitar complicações pela doença.

“Nos pacientes conscientes, recomendamos que eles fiquem de bruços por até duas horas. É simples, mas traz conforto respiratório e, em alguns casos, evita até a entubação”.

Tirar o paciente da sedação e remover o tubo também cabe ao fisioterapeuta.

“Nós chamamos isso de desmame do ventilador. Para isso, o paciente precisa estar consciente e apresentar melhor condição pulmonar”, destaca Daniel.

Com este “desmame”, o ventilador não fica mais responsável por controlar a respiração, mas, sim, para auxiliar.

Para chegar até esta etapa da recuperação, muitas forças são somadas. Fisioterapeutas, médicos e enfermeiros trabalham juntos, mas o principal, é a resposta do organismo.

“Com a ventilação mecânica, o músculo pulmonar pode enfraquecer de tal forma que não consiga mais trabalhar. É muito comum que isso aconteça”, esclarece o coordenador.

Nesses casos, os fisioterapeutas diminuem a pressão do ar propositadamente para que o paciente acabe puxando-o com mais força, já que sente toda a sua falta. Isso ocorre em séries e sob acompanhamento do profissional.

Mesmo com todo o esforço multidisciplinar, muitos pacientes não resistem. Complicações respiratórias ou decorrentes da doença podem surgir no meio do caminho.

Para aqueles que conseguem sobreviver e recebem alta, há – ainda – muita dúvida.

“É tudo muito recente. Não há nenhum estudo internacional sobre isso, mas acreditamos que essas pessoas terão algum tipo de sequela respiratória”, diz o profissional.

Segundo ele, toda a atenção, agora, está sendo dedicada aos pacientes graves, que estão entre vida e morte nas UTIs, mas considera que os pacientes que voltam para casa precisarão de fisioterapia ambulatorial.

Conselho

Coordenando uma equipe de 25 pessoas e convivendo com a tensão a todo instante, Daniel reforça o pedido dos profissionais de saúde: “fiquem em casa”.

Com número limitado de profissionais de fisioterapia é, cada vez mais claro que, enquanto o número de infectados sobe, o de especialistas se mantém ou cai.

Mais hospitalizações portanto, significam não só a ocupação de leitos – que com o tempo se tornam insuficientes para atender toda a demanda -,mas também queda na eficiência do tratamento, já que a mão de obra também é limitada.

“Adotem o distanciamento, lavem as mãos e usem máscara. Nos ajudem a ter um trabalho mais tranquilo, para que a gente cuide de todo mundo”, faz o apelo.

“Entendam que isso não é uma conversa à toa”.

[tdj-leia-tambem]