
Pelo menos 73 enfermeiros e enfermeiras morreram por coronavírus no Brasil. O levantamento, feito pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), considerou os dados até quarta-feira (6) e mostra que a morte entre trabalhadores da categoria com a doença é uma das maiores do mundo.
Nos Estados Unidos, por exemplo, país com maior número de mortes pela Covid-19, 46 profissionais de enfermagem morreram, segundo entidades de classe. A Itália, de acordo com a Federazione Nazionale degli Ordini delle Professioni, teve 35 óbitos. A Espanha, quatro óbitos entre profissionais da área, segundo o Consejo General de Enfermería.
Os dados da China, apesar da terem a confiabilidade contestada, somam 23 até o final de abril.
O Conselho Internacional de Enfermagem estima que “mais de 100 enfermeiros e técnicos perderam a vida pela Covid-19 enquanto trabalhavam na linha de frente”. Pelo menos 73 deste número, são de trabalhadores brasileiros.
No Brasil
Mais da metade (41) dos profissionais de saúde vítimas do coronavírus tem idade inferior e 60 anos.
A distribuição acompanha os lugares com maior número de casos.
Em São Paulo, epicentro da crise sanitária no país, são 18 mortos, seguida por Rio de Janeiro, com 14 casos.
A subnotificação também ocorre entre enfermeiros. Pelo menos outros 16 óbitos envolvendo trabalhadores da área ainda estão sob análise, aguardando resultado de testes.
“Um dos fatores [para a alta mortalidade] é que boa parte dos serviços de Saúde não afastou profissionais com idade avançada, acima de 60 anos, e com comorbidades. Eles continuam atuando na linha de frente da pandemia quando deveriam estar em serviços de retaguarda ou afastados”, afirma Manoel Neri, presidente do Cofen.
Maria Aparecida Duarte, 63, conhecida pelos colegas como Cidinha, é um desses casos. Mesmo parte do grupo de risco, continuou trabalho em um pronto-socorro em Carapicuiba, na Região Metropolitana de São Paulo. Ela contraiu a doença e morreu em 3 de abril.
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Um dia depois de sua morte, em 4 de abril, a Justiça Federal determinou que profissionais de enfermagem do sistema público que façam parte de grupo de risco (por idade ou doença) devem ser realocados para funções que não envolvam contato com pacientes de qualquer síndrome gripal.
Agora, o pedido é que a medida seja ampliada e atinja também profissionais da rede privada.
“Não apenas escassez quantitativa desses produtos, mas também a qualidade do material é questionável. Outra questão é o treinamento das equipes para usá-los: muitos profissionais se contaminam ou pelo uso inadequado do EPI, ou então na hora da desparamentação [retirada da máscara, luvas e avental]”, diz Neri.
Com a pressão para a ampliação de leitos, outro problema.
“Muitos leitos de UTI estão sendo abertos sem enfermeiros e médicos especializados em UTIs. Então o profissional acaba sendo colocado nesse serviço extremamente especializado sem o treinamento adequado”, pontua. “Todos estes fatores que levam à morte de profissionais da Saúde existem tanto nos hospitais públicos quanto nos privados”, conclui.
Com informações do El País.